VOCAÇÃO ATLÂNTICA

O governo dos Estados Unidos prepara-se para cortar o contingente que mantém na Base das Lages, nos Açores, provocando alguma perturbação de ordem económica e social numa região que se habituou a viver tu-cá-tu-lá com os americanos. Embora as negociações entre os governos de Lisboa e Washington prossigam por mais alguns meses, já se adivinha o desfecho de toda esta operação: vão ser retirados 500 efetivos, entre militares e civis, ficando apenas 165 operacionais.

Como seria de esperar, os governantes açorianos reclamam contrapartidas e outras exigências de âmbito material e financeiro para reduzir o impacte social que esta medida vai provocar. É legítimo pedir, mas convenhamos que também não é de estranhar que os norte-americanos queiram sair. Estranho seria se quisessem ocupar um território contra a vontade de quem lá está.

No que toca a este tipo de retiradas, Portugal já tem as experiências anteriores da saída dos franceses da Base de Rastreio de Misseis, na ilha das Flores, em 1993, e também nesse ano da saída dos alemães da Base Aérea de Beja. Mas agora fala-se muito e por vezes demasiado porque a economia regional açoriana habituou-se a uma receita líquida que permite algum desafogo. Mas o certo é que os americanos já não veem nos Açores, a importância estratégica de outrora. Agora, o Pacífico requer mais atenção do que o Atlântico e as tropas têm de estar onde fazem falta e não onde dá mais jeito.

Curiosamente, foram os ingleses os primeiros a ocupar a Base das Lages, durante a II Guerra Mundial. Os americanos já tinham pensado tomar de assalto alguns locais estratégicos dos Açores, tal como se receava uma invasão nazi. Salazar, na ocasião, quis manter a posição neutral e mandou para os Açores um contingente de 25 mil militares. Isto fez parar todas as ameaças e foram os ingleses que ao invocarem a mais velha aliança do mundo (1373) conseguiram através da diplomacia, ocupar em 1943, o que os portugueses já tinham construído
nas Lages. Os americanos vieram depois e após a guerra, saíram todos menos os americanos que justificaram os Açores como o elemento mais perfeito para Portugal integrar a NATO.

Em contrapartida, os americanos comprometeram-se a não incomodar muito o regime de Salazar, criticado e isolado especialmente na Europa. A presença americana nos Açores começou a perder força, a partir do momento em que caiu o muro de Berlim e desapareceu a União Soviética e a guerra fria. Ao longo dos anos, os americanos sempre pagaram através de compensações financeiras e outros benefícios materiais. Agora preparam-se para a retirada e Portugal tem que pensar que o território é seu, arranjar alternativas e soluções e não lamentar a situação. O contrário seria pior.

A Direção