VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A Tanzânia ocupa o lugar 158 do ranking da FIFA, o que significa que aos olhos do mundo o seu futebol vale muito pouco e que quase não tem visibilidade no exterior. Esta realidade contraria a importância e o entusiasmo que os apoiantes mais frenéticos emprestam ao espetáculo. Se o futebol praticado é fraco, o ambiente nas bancadas é efervescente. Quem faz a festa são os adeptos com apostas inéditas e que surpreendem meio mundo.

A rivalidade entre os clubes da capital é tremenda, ao ponto de levar os adeptos à loucura quando está na hora de apostar o resultado. Perdem de tal forma a cabeça que chegam a apostar as suas próprias mulheres. Recentemente, o caso foi denunciado por um jornalista britânico, mas agora sabe-se que esta prática já dura há mais de 50 anos e que ao longo desse período vários homens perderam as suas mulheres para os fãs do clube rival.

Embora o futebol na Tanzânia valha o que vale, a rivalidade atingiu tamanha proporção que dirigentes e adeptos de determinado clube até proíbem as suas mulheres de se vestirem com as cores das equipas adversárias.

Visto assim e à distância parece caricato, despropositado e desumano. Mas a verdade é que se nas leis e regras sociais do Ocidente o exemplo da Tanzânia é criticável, nunca deveremos esquecer que por cá, se não há casos iguais, existe ainda pior. Senão vejamos: Nos Estados Unidos, cerca de um terço dos homicídios de mulheres são de natureza conjugal. Em Portugal, só nos últimos 12 anos foram assassinadas mais de 450 mulheres às mãos dos homens com quem viviam ou viveram.

Um pouco por todo o lado são registadas situações idênticas e, geralmente, acontece quando um homem considera, e disso faz lei, que a sua honra está diretamente relacionada com a pureza da sua mulher. No Canadá, fala-se muito das mulheres indígenas que estão desaparecidas ou mortas. São centenas, mas as causas e os efeitos parecem que são pouco levados a sério.

Por ser um País de imigrantes, o Canadá é vulnerável às muitas culturas que o habitam e em consequência é hoje considerado um País patriarca, fruto dessas tendências trazidas pelas famílias de outras paragens. Estima-se que 80% das mulheres que sofrem atos de violência doméstica no Canadá, não denunciam os casos por razões culturais e de medo. As autoridades, que muitas vezes também são apelidadas de patriarcas, ficam sem saber como atuar, dado que as vítimas se preocupam mais com a sua proteção pessoal do que com a detenção do agressor, omitindo, assim, muitas situações de alto risco.

A febre das apostas na Tanzânia não pode, afinal, ser encarada com o desprezo que tantas vezes o mundo dito civilizado dedica a algumas regiões do planeta. Para os ocidentais é surpreendente e chega a dar vontade de rir. Mas não nos podemos esquecer que as práticas de violência doméstica que denunciamos na nossa cultura são mais que suficientes para dar vontade de chorar.

A Direção