VIAGEM INCOMPLETA

Entre Kobane e Vancouver vai uma grande distância, talvez mesmo do tamanho de uma vida. Kobane é uma cidade síria e Vancouver está além, na costa oeste do Canadá. Em Kobane nasceu, há três anos, um menino chamado Aylan, cujos pais tentaram viajar até ao Canadá e juntar-se à restante família que vive em Vancouver, há 20 anos. Não foi possível porque, inicialmente, as autoridades do Canadá negaram o visto de entrada, e depois o mar encarregou-se de engolir este menino de três anos, juntamente com o seu irmão de cinco e a sua mãe de 35 anos, quando tentavam a fuga para a Europa.

A história desta família de curdos sírios é o retrato do que se está a passar um pouco por todo o lado, com especial incidência no sul da Europa. Já aqui falamos, recentemente, do surto migratório que afeta todo o mundo e muito em especial o continente europeu. Vive-se uma crise humanitária de grande escala, em consequência de um problema que começou por ser regional, mas que rapidamente se estendeu ao nível mundial.

Aylan nasceu curdo na Síria. No meio de um povo que não tem Pátria e que é perseguido, tanto no lado sírio como no lado turco. E depois da fuga da Síria, embarcou num pequeno barco na Turquia em direção a uma ilha grega na esperança de encontrar a liberdade e o futuro. Nada disto foi possível e a única mensagem que resta desta tragédia é a imagem do seu cadáver numa praia turca, que o mar se encarregou de devolver.

Alguns que fugiam como ele conseguiram chegar a bom porto. São centenas de milhares os que fogem de uma guerra injusta e procuram acolhimento. Sonham com a Europa e outros locais que ofereçam esperança. Mas por razões que a própria razão às vezes não consegue explicar, esta tragédia está a tornar-se numa catástrofe humanitária, nunca vista desde a II guerra mundial.

Curiosamente, as rotas que os traficantes de seres humanos escolhem para transportar estas vítimas, nunca passam pelas fronteiras da Rússia, apesar da proximidade. Eles preferem a Europa Ocidental. E aí as coisas complicam-se. Quando antes se criticavam os muros para evitar saídas, agora erguem-se muros para evitar entradas.

Os líderes dos países mais ricos nem sempre se entendem. O mundo assiste, sentado num sofá, aos dramas de cada família em fuga, sem solução à vista pelos atrasos nas decisões. O Canadá, como sabemos, é um País de migrações onde chega gente de todo o lado. Mas esta tragédia atual está longe, está na Europa estável, rica e envelhecida. Talvez ainda possa surgir a ideia de que esta vaga de migração sirva para rejuvenescer o velho continente e a partir daí os responsáveis políticos se entenderem melhor e revolverem bem as coisas. A esperança é a última a morrer.

A Direção