UM SONHO LUSO, ALCANÇADO NA DINAMARCA

Gilberto1Gilberto Miranda pretendia ir para a Zâmbia, mas um problema de saúde mudou-lhe o destino e, por isso, teve de mudar o rumo, a Dinamarca foi o país escolhido. O engenheiro do ambiente descreve esta etapa de vida como um «virar de página, o escrever de um novo projeto».

Como tudo começou
Foi Coimbra que, em 2007, lhe entregou o canudo e lhe conferiu o grau de Engenheiro do Ambiente. Gilberto começou o seu percurso profissional um ano mais tarde. Ingressou numa Organização Não Governamental (ONG) na Serra d´Aire e Candeeiros. Por lá desenvolveu atividades na área da educação ambiental, ao abrigo do projeto “Juventude em Ação”.
Foi nesta altura que encontrou «a paixão por Educação Ambiental», teve a «oportunidade de viajar pela Europa» e começou uma aventura que ditou o seu presente, conta Gilberto.
O seu despertar deu-se no ano de 2010, graças ao projeto “Juventude em Ação”, e por ter ficado desempregado. Fez as malas e viajou para a Estónia, para integrar um plano de formação sobre “Desenvolvimento Pessoal”, explica Gilberto.
Trouxe uma visão diferente. Durante esta jornada percebeu que a sua vida precisava de «uma lufada de ar fresco». Estava disposto a fazer «algo completamente diferente», algo que o pudesse deixar orgulhoso de si mesmo, confidencia Gilberto.
O desafio era trabalhar em alguma coisa que não estivesse apenas virada para o seu prisma, mas que englobasse também o outro. Decidiu que «queria voltar a África» – terra que o viu nascer – e participar em ações de voluntariado.
«Ajudar os mais carenciados» era o grande objetivo, ressalva Gilberto Miranda.

gilberto2A grande Roleta Russa
Estava decidido. Voltar às raízes era o grande plano para 2010.
Depois de alguma pesquisa, encontrou o plano de voluntariado perfeito: “Development Instructor Program”, o qual compreendia «um ano de voluntariado na Dinamarca» e igual período em África, elucida Gilberto.
Inscreveu-se. Acabou por ser aceite. Lá fora estavam dois anos de aprendizagem à sua espera e Gilberto partiu de coração cheio. Pronto para agarrar oportunidades e dá-las na mesma medida.
Esteve um ano na Dinamarca. Apesar da sua sede de África, o roteiro do plano de voluntariado ditou que a sua primeira paragem fosse este país nórdico.
Por lá fez um pouco de tudo. Foram 365 dias «de formação importantíssima. Trabalhei numa escola privada com crianças e jovens em risco de exclusão social e/ou com diagnósticos psicológicos (ADHD, autismo, síndroma de Asperger, Borderline, etc.)», explica Gilberto.
Dinamizou, ainda, «atividades de educação ambiental na horta biológica» e recebeu formação específica para integrar o próximo estágio de voluntariado em África.
Regressou um ano mais tarde. As expectativas eram elevadas. Era tempo de rever a família e preparar-se para mais uma aventura. Desta vez num continente diferente. Num país que também já tinha sido seu, pelo menos até aos doze anos.
Começou a preparar a nova etapa de antemão. Não quis deixar nada para a última hora. Quatro dias antes da partida para a Zâmbia – país africano selecionado para o plano de voluntariado –, já Gilberto empacotava os seus pertences e garantia que tinha tudo em ordem: «documentos, vacinas e visa preparados», conta. Mas quatro dias antes o pior aconteceu. Foi «internado num hospital com um agravamento de uma doença crónica», conta com mágoa. Os planos de regressar a África foram cancelados.

Sem África à vista – e agora?
«Foi difícil tirar a ideia da cabeça, mas em vez de fechar o livro, optei por virar a página e escrever um novo projeto de vida», confessa Gilberto.
Pensou em desistir e ficar permanentemente em Portugal. Mas «a situação económica e o desemprego assustavam-me imenso», confidencia.
Recebeu uma nova proposta de trabalho. No convite havia um bilhete de regresso à Dinamarca e posto de trabalho na mesma escola onde há um ano tinha desempenhado funções de voluntário.
Aceitou, sem pensar duas vezes. Tudo ia ser mais fácil, mais aliciante, uma vez que «tinha criado raízes e amizades», aquando da etapa de voluntariado, explica Gilberto.
Agora o desafio já acarreta outra responsabilidade, porque, para além de exercer funções no âmbito da Educação Ambiental, integra um plano de «formação de novos voluntários», explica Gilberto.
Foi desta forma que «nasceu o meu novo projeto de vida, por onde fui e vou construindo o meu percurso, passo atrás de passo e que me leva a ficar pela Dinamarca» por tempo indefinido, esclarece o português.

gilberto3Um sonho Luso, alcançado na Dinamarca
Gilberto continua a pensar que a Educação Ambiental ainda é uma «utopia em Portugal».
Já pisa terras dinamarquesas há quatro anos. Copenhaga foi a cidade que escolheu para viver e evoluir profissionalmente.
A sua grande conquista surgiu há um ano. Conseguiu arranjar um estágio profissional num «Jardim de Infância da Natureza», projeto inserido no Sistema Educativo dos jardins-de-infância daquele país. Todos os jardins-de-infância têm um determinado perfil. «Pode ser mais virado para a música, para a natureza, para as artes, etc.», clarifica Gilberto. «No meu caso, comecei esta minha nova etapa de vida num jardim-de-infância mais virado para a natureza», onde todo o tempo é passado na floresta em contacto direto com a natureza, reforça.
Já fala fluentemente dinamarquês. Conseguiu obter o diploma de nível cinco (com equivalência ao 9.º ano de escolaridade), depois de frequentar «aulas de dinamarquês, gratuitas durante três anos para estrangeiros», elucida Gilberto.
Atualmente, trabalha na Câmara Municipal de Copenhaga, onde integra o Departamento para o Desenvolvimento Sustentável. Por lá, e em parceria com o Departamento da Educação, são desenvolvidas ações de apoio ao currículo escolar do sistema educativo (dos 0 aos 18 anos), «em temáticas de ambiente, conservação da natureza e desenvolvimento sustentável», descreve Gilberto.
Faz parte de uma equipa de cinco pessoas e trabalha diretamente «com crianças dos 0 aos 6 anos de idade, ou seja, crianças dos jardins-de-infância, para quem fazemos várias atividades de Educação Ambiental». Por norma, as crianças vão «até à nossa Escolinha da Natureza, mas também nos deslocamos muitas vezes a instituições para fazer determinadas atividades», esclarece o português.
Gilberto conseguiu o que considera como «o […] [seu] emprego de sonho». E afirma de peito cheio: neste momento, «faço o que amo e sou feliz”.

Como se vive no mais meridional dos países nórdicos?
O clima não foi um entrave. A questão da língua foi superada com elevado grau de sucesso, tanto que já se inscreveu no último nível de dinamarquês que lhe dará equivalência ao 12.º ano «e a possibilidade de concorrer ao ensino universitário na língua dinamarquesa», ressalva Gilberto. Gostou tanto do país que hoje em dia os seus grandes amigos do peito são sobretudo dinamarqueses. Adaptou-se facilmente aos hábitos, costumes e cultura de um país tão díspar de Portugal. Por lá, o uso da bicicleta é transversal na sociedade dinamarquesa. «Não é de estranhar ver políticos, deputados ou ministros a movimentarem-se de bicicleta no seu dia-a-dia. Esteja calor ou esteja frio. Esteja a chover ou a nevar», enfatiza Gilberto.
Para a Dinamarca, levou no peito a saudade. De um povo que ainda é seu, da família e amigos, de um sol, que por lá não brilha com igual intensidade, e de uma gastronomia sem igual.
Se pudesse, trazia para Portugal a «transparência politica, o reconhecimento/mérito profissional e a equidade social», acrescenta Gilberto.
Não pensa regressar ao país que o acolheu aos doze anos de idade. A Portugal só voltaria se houvesse a possibilidade de voltar a «trabalhar na área da Educação Ambiental». Mas «a verdade é que me sinto bem a viver em Copenhaga, cidade que ainda me apaixona todos os dias, onde posso dizer que sou feliz, pois estou a conseguir percorrer um percurso que dificilmente conseguiria percorrer em Portugal», diz o português.

Mais do que tudo é um Coração Luso

Descreve a sua experiência como o «virar da página, o escrever de um novo projeto de vida». Define-se como «um português lutador e ambicioso» e acrescenta que «por muitos entraves que a vida nos possa apresentar, em vez de fechar o livro temos de virar a página e escrever novos projetos de vida», conclui Gilberto.