THE GAME IS OVER

Desde que entramos na era do digital, reduziu-se o espaço para fugas e grandes enganos, quer em contas, quer em projeções. O mais recente exemplo são as eleições na Grécia, do passado domingo, que deram a vitória ao partido da extrema esquerda Syrisa e ao seu líder Alexis Tsipras, tal como indicavam todas as sondagens. Apesar de nos últimos dias afirmar-se que o discurso de Tsipras passou a ser mais moderado, devido à possibilidade de chegar ao poder, o certo é que a Grécia vai ser governada por uma equipa que, precisamente para chegar ao poder, pôs em causa, segundo alguns governantes da UE, todo um projeto europeu que se quer pautar pelo rigor, segurança e confiança.

A Grécia foi o décimo país a aderir à União Europeia, na ocasião ainda designada por CEE. Integrou o grupo fundador da moeda única, o Euro. E foi o primeiro país a incomodar todo o espaço monetário pelas políticas seguidas, anos a fio, por governos que não se importavam com o descontrolo das contas públicas. Quando em 2008, se começava a viver os tempos conturbados da crise financeira, cujo primeiro grande alarme foi dado com a falência do Lehman Brothers, o governo grego ignorava os avisos dados pelo seu banco central, da necessidade de se apertar o cinto e seguir em frente com reformas imprescindíveis para enfrentar o futuro.

Nessa ocasião, e contrariando todas as tendências, os gregos, que estavam à beira de ficar sem dinheiro, garantiram a totalidade dos depósitos bancários e foram a eleições. Os socialistas saíram vencedores com a promessa de aumentar salários e ignorar as recomendações internacionais de contenção. Uma vez no poder, nada pôde ser cumprido. As agências de rating baixaram a cotação grega até chegar ao pior nível do mundo. As estatísticas da Grécia não eram verdadeiras, as contas públicas eram falsificadas e a dívida do país ficou descontrolada.

A Grécia pediu o primeiro resgate da zona Euro e entre todas as dificuldades, sobressaíam as greves, a recessão e o desemprego. No país em que a profissão de cabeleireira era considerada de alto risco, as reformas atrasaram-se. Entre promessas eleitorais e ações concretas, a Grécia mergulhou na maior crise de sempre. O desemprego passou a ser o maior da Europa, o défice sem solução à vista e como diria o seu ministro das finanças, o país “estava metido numa grande alhada”.

Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu saiu vencedor o partido de extrema-esquerda, Syrisa. Perante este quadro, não pararam novas promessas ao eleitorado e o Governo que ainda tinha mais ano e meio para governar teve de pedir a demissão e acabou por dar lugar a Alexis Tsipras para entrar em cena. O que vai acontecer é imprevisível. Outros países europeus, encabeçados pela Alemanha, já avisaram sobre as consequências de uma má governação e desrespeito pelos acordos firmados. A Grécia foi livre para eleger e agora vai pôr à prova o que vale o rigor europeu. Das duas uma: ou tudo fica na mesma e não há outra saída, ou a experiência grega é vista como uma brincadeira que acabou.

A Direção