SILÊNCIO NAS LAJES

Diz o povo que o silêncio é a alma do negócio e é, precisamente, isso que se verifica nas negociações entre norte americanos e portugueses no que concerne à estratégia a adotar para o futuro da Base Aérea das Lajes. Com a queda do muro de Berlim e o enfraquecimento da guerra fria, o século XXI começou a ditar novas regras quanto à utilização da Base açoriana. Os americanos anunciaram a redução de efetivos e uma nova estratégia para a sua permanência. Em consequência, os Açores perderam força e influência no panorama internacional.

Mas, inesperadamente ou não, de há dois meses a esta parte, as Lajes voltaram a conhecer movimentos inusitados, ao ponto de surgirem diversos anúncios públicos para a contratação de novos trabalhadores locais, nas áreas da engenharia civil, condução de máquinas pesadas, observação meteorológica e operação de eletrobombas. Tudo isto depois de uma recente redução de mais de 50% dos efetivos portugueses e de 75% dos militares norte americanos.

A presença militar nos Açores sempre foi encarada como um fator positivo para a Região. Mais emprego e maior capacidade financeira, fruto das contrapartidas, fazem as delícias de quem vive dependente desta influência externa. Apesar de muitas forças políticas portuguesas apregoarem aos sete ventos a necessidade da independência nacional, é quase certo que, hoje, preferem a permanência dos norte americanos em solo açoriano do que vê-los sair.

A Base das Lajes foi criada no âmbito da II Guerra Mundial e desde então os Açores assumiram uma importância estratégica vital para a defesa do Ocidente, do eixo Atlântico e das liberdades. Todas as grandes decisões passavam pelo Atlântico e quem melhor do que os Açores para garantir essa vantagem? Quando começou a II Guerra, Portugal ocupou militarmente toda a região para evitar uma invasão dos alemães e veio depois ceder à Inglaterra a Base das Lajes, tendo em conta a velha aliança entre os dois países.

Quando terminou a Guerra, a Royal Air Force abandonou as Lajes e cedeu o lugar às tropas norte americanas. Pouco depois, em 1949 e graças aos Açores, Portugal passou a integrar a NATO, com muita tolerância dos americanos face à política colonial portuguesa defendida por Salazar. Como se sabe, os EUA eram favoráveis à descolonização em todas as frentes e questionavam, permanentemente, a política colonial portuguesa.

Os Açores estão no meio de todas as encruzilhadas, entre a América e a Europa e a dois passos de África e do Médio Oriente. O controlo do Atlântico esteve ali, quiseram enfraquecê-lo com o argumento de que a presença militar norte americana excedia as necessidades, mas pelos vistos está de volta. Não se sabe em que moldes, por quanto tempo, nem porquê, mas uma certeza paira no ar: a movimentação de aviões aumentou recentemente, embora o silêncio seja a chave de ouro, tanto de Washington como de Lisboa, para definir o futuro da Região.

A Direção