SALVAR O VERÃO

Correio da Manhã Canadá

Nos primeiros dias de pandemia muitos de nós achávamos, otimisticamente, que no verão tudo estaria resolvido. Prescindir das férias é abdicar dos dias mais esperados do ano, daquela pausa indispensável para tirar partido do sol e recarregar baterias. Ficar sem verão não era um pensamento que quiséssemos alimentar.

Mas agora, a cada dia que passa, agrava-se a certeza de que isto não é algo passageiro e que poderá durar mais tempo do que imaginávamos. Há quem diga um ano, há quem diga dois ou mais, e o pior é que os próprios especialistas não sabem ou contradizem-se, alimentando este estado espírito de confusão que se tornou próprio da pandemia.

Com o isolamento e as restrições na circulação, tem-se dito que o setor do turismo é um dos que mais está a sofrer. Em Portugal, notícias alertaram para a morte do setor, mas novos relatos dão alento aos muitos que dependem dos turistas para viver. Com efeito, há profissionais do setor que dizem não só que o turismo não morreu, mas que há alojamentos de férias em Portugal quase completamente lotados, para lá de agosto, e com preços mais elevados do que em 2019.

Há, naturalmente, particularidades no comportamento dos turistas em plena pandemia. Ainda em Portugal, centros urbanos como Lisboa e Porto parecem ter taxas e ocupação menores, como dão conta alguns relatos, com os turistas, sobretudo portugueses, a privilegiarem apartamentos turísticos em zonas mais isoladas, de forma a assegurar um maior controlo dos contactos.

A ideia de que a pandemia pode ser uma oportunidade para o turismo doméstico, assente no mercado interno, também parece ganhar força no Canadá. À semelhança de Portugal, no Canadá há quem não prescinda das férias, optando, em alternativa, por destinos turísticos mais próximos de casa.

A delineação inédita de uma estratégia turística em Brampton “com foco na recuperação económica e em iniciativas locais”, como pode ler-se na página 8 deste jornal, é mais um exemplo das oportunidades, ou pelo menos do otimismo, que a pandemia inspirou no setor do turismo.

Se há aspeto que a pandemia tem vindo sistematicamente a provar é o de que há muitos comportamentos que dávamos por adquiridos passíveis de serem revistos, quem sabe até por uma vivência melhor, mais económica, comunitarista e saudável. Talvez a forma como “turistamos” seja mais um exemplo disso…