QUANTO VALEM OS EMIGRANTES

A continuar com o mesmo ritmo, chegaremos ao final deste ano com mais de 3 mil milhões de euros enviados para Portugal pelos portugueses que residem e trabalham noutros países. São muitos milhões por dia e que se calcula sejam uma parte para ajudar familiares que por lá ficaram e outra para poupanças ou investimentos considerados positivos. Este ritmo não se verificava desde 2001, quando se bateram todos os recordes com quase 4 mil milhões.

Mas este dinheiro não representa a totalidade do que é enviado. A classificação de remessa de emigrante é dada apenas a transações cujo valor mínimo sejam 50 mil e por quem está fora do País há mais de um ano. Estima-se que o dinheiro, efetivamente, enviado pelos emigrantes seja 7 vezes superior ao que se consideram remessas.

A avaliar por esta forma poderemos verificar facilmente a importância que representam para Portugal, todos os cidadãos portugueses que resolveram sair da sua terra e do seu País. Entre 1958 e 1974 ausentaram-se cerca de 1,5 milhões. Só em 1973 abandonaram Portugal 123 mil pessoas. Nessa altura, emigrava-se para se conseguir uma vida melhor por falta de expetativas. Hoje, emigra-se para se pagarem dívidas entretanto contraídas, sendo a principal a amortização de casa própria, cuja realidade e engenharia financeira foi engendrada pelos políticos e com o beneplácito dos bancos. E enquanto em anos anteriores se procuravam melhores salários, hoje o emigrante típico estava no desemprego em Portugal.

Essa prática de crédito fácil e de endividamento quase sem garantias teve o seu apogeu na década de 90 e início deste século, precisamente quando os fundos comunitários fizeram desvalorizar o esforço e o poder de aforro dos emigrantes. Através dos fundos, havia dinheiro para tudo, mas parecia que não tinha dono. Hoje, sem a abundância dos tais fundos europeus, voltamos à necessidade imprescindível de pôr novamente ordem na casa e, então, as remessas dos emigrantes adquiriram mais uma vez a importância que nunca deveriam ter deixado de ter.

A nova vaga de emigração é mais esclarecida e muito do dinheiro que enviam para Portugal aplica-se em investimentos financeiros e imóveis. Não conta como remessa, mas tem grande importância económica. Apesar da ausência das pessoas, o seu dinheiro mexe com a economia e é bom, para todos. Pelo contrário, a imigração que chega a Portugal é cada vez mais desqualificada e, por isso, as remessas que costumam sair de Portugal para os países desses imigrantes está a baixar. Há que ser mais exigente.

A Direção