PORTUGAL TRANQUILO

Os portugueses são surpreendentes e começam a interessar os verdadeiros estudiosos do comportamento social. Isto vem a propósito dos múltiplos comentários políticos emitidos nos mais diversos canais de comunicação de todo o mundo, depois das eleições legislativas realizadas anteontem. Passos Coelho é o primeiro líder europeu reeleito depois de impor políticas duras de austeridade.

Nos últimos quatro anos Portugal viveu uma das maiores crises financeiras de sempre. A coligação governamental foi forçada a adotar medidas restritivas e de grande impacto anti-social. Todos foram chamados a pagar com a sua quota-parte o que os credores exigiram para que Portugal não caísse na banca rota e enfrentasse consequências imprevisíveis.

A realidade foi de tal forma negra que era frequente ver-se qualquer membro do governo ser recebido nas cerimónias públicas com vaias e apupos, ao mesmo tempo que várias vezes as sessões do Parlamento foram interrompidas para expulsar público que se manifestava nas bancadas contra a austeridade. Tudo apontava para uma derrota esmagadora desse Governo, pois quem não prefere ouvir promessas de melhores dias, de incentivos e garantias de nova distribuição de mais riqueza? Os partidos da esquerda em Portugal apontaram os discursos à criação de emprego, aumento das reformas e melhores salários. Na prática adotaram um discurso que poderia ser aplicado por uma força sindical.

Essa receita não foi suficiente, uma vez que essas promessas são comuns a todos. Os portugueses entenderam que há promessas mais responsáveis do que outras e mostraram que o seu conhecimento político é maior do que se previa. O atual cenário político mostra que 70% dos portugueses são favoráveis à Europa e ao Euro e não embarcaram em novos aventureirismos como acontece um pouco por todo o lado. Com estes resultados fica provado que é possível continuar-se com um programa de reformas conducentes à continuada modernização do País.

A governação vai continuar, mas agora com a necessidade de entendimentos parlamentares com os socialistas, que por ser um partido responsável da área da governação não terá outro caminho senão olhar a Europa e esquecer o discurso radical da extrema esquerda portuguesa. Os socialistas vão ser o fiel da balança, prevendo-se que eles próprios vivam momentos de alguma instabilidade durante os próximos tempos, com a liderança em causa.

Ao contrário do que se passou após as eleições na Grécia, a primeira reação dos mercados foi agora bastante positiva. Em toda a Europa as bolsas subiram e os investidores continuam tranquilos com Portugal.

A Direção