PORTUGAL EM PARIS

O novo Presidente de Portugal tomou posse na semana passada e uma das primeiras decisões conhecidas publicamente foi escolher a capital francesa para o local oficial das comemorações do Dia de Portugal e das Comunidades, que se celebra a 10 de Junho. É a primeira vez que tal acontece fora do território português. Paris é, desde há muito tempo, a segunda cidade portuguesa, depois de Lisboa, no que diz respeito ao número de habitantes portugueses. Só na região da Grande Paris vivem quase um milhão de portugueses, o que faz desta Comunidade a segunda maior em França, depois dos argelinos e à frente dos marroquinos.

Paris é uma cidade que diz muito aos portugueses. Na década de 60 do século passado, em pleno período de guerra colonial e quando Portugal se afirmava como um País de forte tendência agrícola e sem grandes expetativas de futuro para quem ousasse desafiar o establishment, a França era a primeira porta para a fuga. Pela calada da noite e, muitas vezes, em condições precárias, os portugueses fugiam em silêncio com o objetivo de alcançarem os Pirenéus e, a partir daí, buscar nova vida com esperança.

Toda aquela gente se espalhava pelo território francês, mas grande parte concentrava-se nos arredores de Paris onde construíram e se acomodaram, enquanto foi possível, nas famosas bidonvilles. Muita gente sem formação, num estado submisso e como se costuma dizer, com uma mão atrás e outra à frente. Outra coisa não lhes restava senão obedecer e fazer o que se proporcionava. A França crescia a olhos vistos e a mão-de-obra barata dos portugueses foi bem aproveitada na construção civil e outras tarefas menos qualificadas para os homens, enquanto às mulheres estava reservado o papel de trabalhos domésticos para que nada faltasse às madames.

Meio século depois, os portugueses em França afirmaram-se. Com a chegada ao poder de François Mitterrand, na década de 80, foi possível deixar de ser simplesmente empregado ou tarefeiro e passar a ser empresário e dar corpo ao empreendedorismo. Toda a Comunidade mereceu o respeito e a valorização para melhor entrosamento. Com a adesão de Portugal à União Europeia em 1986, tudo se tornou mais facilitado. Hoje, os portugueses em França são uma força reconhecida e, curiosamente, a melhor ponte para servir os interesses franceses que, nesta ocasião, querem investir em Portugal, seja por razões de ordem fiscal quer seja por razões de segurança.

Marcelo Rebelo de Sousa escolheu, portanto, Paris para evocar o nome de Portugal no Dia 10 de Junho. O Presidente francês, François Hollande, vai marcar presença e toda a Comunidade vai associar-se às comemorações. Nessa ocasião, também decorrerá em França o campeonato Europeu de futebol, onde a nossa seleção marca presença e com grandes aspirações à vitória.

Todos os ingredientes estão preparados para que uma das primeiras decisões do novo Presidente de Portugal tenha o maior sucesso e impacto internacional. Fica confirmado que as Comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo são um pilar fortíssimo e influente na afirmação de Portugal. Aqui no Canadá, nós estamos nessa.

A Direção