POLÍTICOS E JORNALISTAS

Para haver políticos tem de haver jornalistas. Vivem e convivem em permanência, o mesmo que dizer que uns não passam sem os outros. Os políticos têm as suas agendas de trabalho, com mais ou menos interesse. Deslocam-se, recebem, contactam, vão ao encontro de pessoas, cumprimentam, inauguram e participam em eventos, são convidados de honra e, regra geral, são eles que dignificam os atos e os momentos. Quer vão para longe ou mais perto, com mais ou menos interesse, quer chova ou faça sol, esses mesmos políticos informam sempre os jornalistas sobre a atividade das suas agendas.

Os jornalistas não vão a todas as solicitações, pois não haveria mãos a medir desde a agenda do mais alto cargo da nação até ao mais básico que também informa e gosta de protagonismo. Os jornalistas fazem uma seleção e adaptam-se ao estilo a que habituaram os seus públicos leitores. Entre o emissor, que neste caso são os políticos, e o recetor representado pelo público, os jornalistas desempenham o papel de descodificar mensagens, ampliar interesses ou sintetizar pretensões. O jornalista informa, facilitando as tarefas do político e do público.

Se os políticos dignificam as ações, são os jornalistas que as legitimam, uma vez que é através dos múltiplos canais de informação que as mensagens chegam ao público anónimo. Acontece, porém, que esta relação nem sempre é a mais perfeita, parecendo mesmo estranha na maior parte dos casos. Já todos assistiram, com certeza, àquela imagem do político a fugir diante de jornalistas que não param de fazer perguntas. As respostas são sempre iguais, ou seja que não há nada para dizer, ou nada para acrescentar e outras banalidades.

Esta relação de confronto verbal, de afastamento e desrespeito profissional é também um grande equívoco. Os políticos esquecem-se que são eles ou os seus gabinetes que convocam os jornalistas para determinados eventos, quando muito lhes interessa. Depois, se a coisa não corre de feição, ora porque os jornalistas deram pouca importância ou porque por qualquer outro motivo lançaram uma pergunta incómoda, voltam as cenas do costume, de desrespeito profissional, algumas mesmo de desprezo por esta profissão e muitas vezes captadas pelas câmaras e que o público já se foi habituando a digerir.

Mas em democracia, uns não passam sem os outros e escusado seria sujeitarem-se, às vezes, a situações ridículas. De facto, esta relação é caricata e a prová-lo estão os convites permanentes que os políticos fazem aos jornalistas, não só para espelharem o seu trabalho ou simplesmente promessas, como também para integrarem os seus gabinetes para melhor orientarem essa projeção de imagem, tão imprescindível nos dias de hoje. Políticos e jornalistas entendem-se tão bem e tão mal que depois há políticos que se desiludem e entram para o jornalismo e há os jornalistas que se encantam com a política e abraçam essa carreira. O público anónimo vê, assiste e comenta. E com toda a legitimidade, desilude-se e indigna-se muitas vezes.

A Direção