PAPEL DE EMBRULHO

Uma certeza que ninguém duvida nem põe em causa é a de que o pastel de nata é uma invenção portuguesa. A sua origem remonta ao século XVII, através dos monges que habitavam o Mosteiro dos Jerónimos. Como se sabe, a confeitaria portuguesa tem origens monegascas.

Mas aconteceu que, no final do século XVII, as ordens religiosas foram expulsas e com a revolução liberal de 1820 foram encerrados muitos conventos e mosteiros. Apesar disso, o pastel de nata resistiu e o que já era tradição manteve-se na zona de Belém, mas nas mãos de novos comerciantes pasteleiros.

Hoje, o pastel de nata é a joia da doçaria portuguesa. Está em todo o lado, para não dizer em todo o mundo. Acompanha os portugueses e é chegada a hora de, finalmente, transformarmos este doce numa relíquia planetária disponível a todos os povos.

O recém ministro da Economia e que muito tem a ver com o Canadá, Álvaro Santos Pereira, chegou mesmo a falar da internacionalização do pastel de nata. Na ocasião, muitas vozes brincaram com a deixa e, essencialmente, a classe política achou de menor importância tão inesperada ideia.

Hoje, com a distância temporal e com a realidade que conhecemos do Canadá, todos somos testemunhos vivos da oportunidade e da importância do pastel de nata. Em Toronto e tantas outras cidades canadianas o pastel de nata é rei e senhor e faz-nos pensar por que será que os portugueses não difundiram e espalharam pelo mundo outros costumes e riquezas que só agora começam a despontar?

De facto, passamos muitos anos a atirar pedras para cima do nosso telhado. Quer dizer que herdamos o mau hábito de só apreciarmos o que diz respeito aos outros e nunca soubemos embrulhar os nossos produtos. Felizmente que as novas gerações estão a encarregar-se de alterar estas regras e pode ser que atrás do pastel de nata venham muitos outros produtos e ideias.
É preciso puxar pela cabeça, pois oportunidades não faltam e nós somos bons nisso. Afinal, temos quase tudo. Só nos falta o papel de embrulho.

A Direção