O VELHO, O BURRO E A CRIANÇA

Quem não se recorda da estória que maltratava o velho que ia montado num burro com a criança a pé; e insultava a criança por ir tranquilo em cima do burro, enquanto o velho caminhava com dificuldade ao seu lado; e criticava os dois porque ambos se tinham montado em cima do burro; ou eram apelidados de tontos porque tinham resolvido caminhar atrás do burro para não cansá-lo?

Esta estória está cada vez mais atual na política portuguesa. Em Lisboa há sempre quem faça de velho, de burro ou de criança. Nunca nada está bem. Governo e oposição têm sempre caminhos e estratégias diferentes. Por mais evidentes que pareçam as coisas há sempre discórdia e falta de vontade. A sociedade civil, felizmente, parece mais evoluída e disposta a lutar pela recuperação e pelo bom caminho.

Quem não tem trabalho, quem não tem recursos, quem caiu na desgraça não encontra soluções no aparelho do Estado e tem, forçosamente, de recorrer à caridade. Os sindicatos dizem-se defensores dos trabalhadores e ignoram o trabalho. Os desempregados recorrem aos subsídios como se de uma fonte inesgotável se tratasse. Os políticos discutem matérias pouco práticas para a realidade e passam os dias numa discussão surda sobre o que é ou não constitucional. Há quem abomine a Bíblia ou qualquer código de conduta. Mas quando se trata da Constituição a luta é outra, é sagrada, mesmo que não se acredite em santos.

Recentemente, gerou-se uma discussão em torno de uma manifestação que uma central sindical convocou para atravessar uma das pontes de Lisboa. Por mais pareceres negativos que entidades técnicas apresentaram para não se realizar esse cortejo, alegando razões de insegurança, os responsáveis sindicais fizeram braço de ferro, até à última hora. E tudo isto porque o importante não é o trabalho, o desenvolvimento e a riqueza, mas antes o protagonismo e a vontade de mostrar ao mundo, através das televisões, a capacidade de mobilização de milhares de pessoas dispostas a tudo e às vezes de forma inconsciente.

Os portugueses em Portugal habituaram-se a regras estranhas. Sabem tudo e não ouvem nada. Mas o que todos nós sabemos é que Portugal foi intervencionado e graças ao dinheiro emprestado pelos credores foi possível salvar o País numa primeira aflição. Os juros e formas de pagamento são fatores que devem ser avaliados e negociados. Mas em vez desse esforço, pura e simplesmente, ignoraram os credores, não procuram o diálogo e recusam soluções. Há partidos e sindicatos que se arvoram em heróis por nunca terem reunido com os representantes dos credores. E depois exigem questionar a dívida. Os caminhos que apontam é conversa fácil, discursos populistas e soluções tipo manifestações em cima de uma ponte.

A Direção