O POSSÍVEL REGRESSO

Circulou pela internet, na semana passada, um apelo de um luso-angolano, ou angolano com nacionalidade portuguesa, com negócios em Luanda e muito desfrute na Europa e Estados Unidos, em que acusava todos aqueles que foram a Angola para sacar e que ao primeiro contratempo começaram a abandonar tudo e regressar à base. Ou seja, o português tem a especial característica de viver em qualquer parte do mundo, embora nunca tenha sido muito colonizador, mas mais colono. Isto é, impõe menos e integra-se mais.

Com a crise que se abateu nos últimos anos na Europa e muito especialmente em Portugal, não havia muitas saídas para uma parte considerável da população, jovem e esclarecida, senão o recurso à emigração. Entre críticas ao governo de Lisboa, que pouco podia fazer para travar essa tendência, assistiu-se a uma razia nas partidas dos portugueses. As saídas eram em todas as direções e muitos apontavam para o Canadá e Estados Unidos, mas também para a Europa central e do norte, outros destinos asiáticos, Brasil e em força para África, com Angola e Moçambique como principais destinos.

Luanda era a nova esperança, especialmente para tantos que nunca lá tinham estado mas que cresceram a ouvir falar das potencialidades daquela terra que sempre fez parte do ideal lusitano. Embora a língua nunca tenha sido um obstáculo à emigração portuguesa, neste caso angolano tudo se tornava ainda mais favorável. Por cada obra que parava em Portugal, surgiam em Angola outras de maior dimensão e de resultados mais satisfatórios. Os aviões saiam cheios e regressavam meios. Este era o Portugal dos últimos anos.

Até que alguma coisa começou a alterar-se. Depois de 3 anos em recessão, Portugal registou em 2014 os primeiros saldos positivos na economia. O desemprego começou a baixar e as previsões de futuro apontam para um crescimento mais sustentado. Isto não basta, assim de repente, para travar a saída de jovens quadros altamente qualificados, mas é o suficiente para se começarem a registar movimentos inversos. E é precisamente o que está a passar-se com Angola. A descida abrupta do preço do petróleo arrefeceu consideravelmente a economia angolana, que vinha registando taxas de crescimento entre as maiores de todo o mundo. Muito do percurso que estava a ser feito vai abrandar e alguns projetos vão ser repensados senão mesmo esquecidos. Angola é uma terra com muitos recursos, tais como reservas minerais e de petróleo, mas as leis do mercado ditaram que agora alguma coisa vai mudar e os primeiros a indicarem essas alterações são os emigrantes, neste caso os portugueses que estão numa de voltar a casa.

Daí o tal apelo do luso-angolano com negócios em Luanda que começa a ver fugir parte considerável do seu mercado. A forte dependência do preço do petróleo tem destas coisas e Angola não é o único País a viver esta realidade. Depois de 40 anos em permanente conflito armado, entre guerra colonial e guerra civil, voltaram os indicadores de uma população com taxas muito baixas de expectativa de vida e de mortalidade infantil e de uma desigualdade económica das mais acentuadas no mundo. Os portugueses residentes em Angola são os primeiros a dar sinais de regresso.

A Direção