O PASTEL DE NATA

Ao início todos gozaram com ele. Refiro-me ao ex-ministro português da Economia, Álvaro Santos Pereira, que partiu do Canadá, onde residia, para ocupar e dirigir tão importante cargo no Governo de Portugal. E todos gozaram com ele porque começou por pedir aos jornalistas para o tratarem por Álvaro, o seu nome, em vez do senhor doutor, esse tão marcante e curioso salamaleque que, para além de título, tem caracterizado a sociedade lusitana.

Depois, voltaram a gozar com ele porque um dia fez uma referência positiva ao que Portugal tem de bom e que mais ninguém consegue imitar: o pastel de nata. Gozaram tanto com ele, que até o líder da oposição na altura, António José Seguro, de visita a uma feira da cadeia alimentar, abeirou-se de um stand de doçaria, sempre em jeito de campanha eleitoral, e entre sorrisos e conversa fiada, o responsável pelo espaço convidou-o a provar as suas iguarias. Em especial o seu pastel de nata. Na ocasião, Seguro respondeu que esse não. Não no sentido de fazer mal ou ser indigesto, mas sim porque esse passara a ser o doce do regime.

Isto é a prova da falta do bom senso e de dimensão e do desprezo pelas oportunidades que tantas vezes surgem no nosso caminho. Apesar do gozo e da brincadeira com que mimaram e minimizaram o Álvaro Santos Pereira, o certo é que o pastel de nata ganhou outra projeção em todos os cantos do mundo. Nunca se consumiram tantos pastéis de nata como agora, nunca se exportaram tantos pastéis de nata como agora e nunca esta indústria foi tão bem acolhida e respeitada como agora.

No Canadá, as pastelarias portuguesas brilham com os seus pastéis de nata. São verdadeiras embaixadas dos bons costumes e tradições de Portugal. Até na China já se pode apreciar este rico sabor, tantas vezes servido a acompanhar o bom café português. São coisas pequenas, mas são boas e são nossas, desde o tempo dos nossos avós. Os ditos iluminados do descontentamento e do discurso da fatalidade e que sobrevivem no meio da desgraça dos outros, não reparam que o turismo em Lisboa forma filas intermináveis para provar um pastel de nata. Infelizmente, não sabem tirar partido das coisas boas e do sucesso.

Esses arautos da miséria ignoram, também, que cientistas da Universidade de Aveiro, mais preocupados com o futuro, estudaram o pastel de nata e já desenvolveram uma nova receita menos calórica. Os resultados destas investigações estarão no mercado já no próximo ano e seguramente vão correr mundo. O que começou por brincadeira, está a transformar-se num caso sério de sucesso. Aqui no Canadá, que nunca nos falte a vontade e o desejo de saborear os nossos e bons pastéis de nata, acompanhados do bom café português.

A Direção