O FUTURO É BILINGUE

Há relativamente pouco tempo fomos convidados a assistir a uma sessão de apresentação das capacidades e potencialidades do Instituo Sheridan, em Mississauga. Trata-se de um estabelecimento de ensino pós-secundário de grande afirmação no Ontário e que atrai estudantes de todo o mundo para desenvolverem os conhecimentos em vários setores, desde as artes às ciências.

Atentamente correspondemos ao convite e o que mais nos impressionou não foi apenas a forma como se apresentam aos candidatos e lhes propõem saídas e soluções, mas sim o impacte que provocam e despertam a necessidade da aprendizagem. Uma professora dirigiu-se ao vasto auditório, repleto de candidatos, e na melhor maneira de interagir com a plateia, lançou o seguinte repto: “Quantas pessoas aqui falam apenas uma língua?” Das centenas de candidatos presentes ergueram a mão meia dúzia deles. A pergunta seguinte foi sobre quem falava duas línguas e três línguas e por aí adiante. Muitas mãos se foram levantando para tristeza e vergonha dos primeiros que apenas falavam o inglês.

De facto, o mundo do futuro já não se restringe às imposições ditadas pela ordem internacional do pós-guerra e que atribuiu à língua inglesa o estatuto da universalidade. Se hoje ainda é assim, o mundo do futuro exige mais do que apenas o domínio do inglês, tanto mais que o poder das novas economias assim determina e influencia. Aqui, na América do Norte fomos criados e educados sob a orientação de que o mundo girava à volta dos Estados Unidos, Canadá e pouco mais. Falar-se uma segunda língua seria desnecessário e perda de tempo, pois o importante seria obrigar os demais a entenderem-se e a negociarem na língua inglesa.

O século XXI veio alterar muitas regras pré-estabelecidas ao afirmar-se como o período de domínio asiático. E não tardou que a China se impusesse e, rapidamente, a sua economia tornou-se a segunda maior à escala mundial, logo seguida dos Estados Unidos. Isto seria impensável há 25 anos quando tudo era decidido na mesa do G7, os mais ricos do mundo e de cujo grupo não faziam parte nem a China nem a Rússia e muito menos o Brasil.

Hoje, ainda há quem não queira ver e sentir o futuro e prefere continuar como se nada fosse. O que vimos e assistimos no Instituto Sheridan foi, precisamente, uma palestra de grande dimensão com os olhos postos no amanhã. O Canadá é um País construído por múltiplas comunidades e, nesse aspeto, está defendido, pois a diversidade também propicia riqueza e melhores soluções.

A vasta Comunidade portuguesa faz parte desta realidade. Somos muitos neste País, desde o Atlântico ao Pacífico. A nossa língua original ainda está bem viva e faz-se notar um pouco por todo o lado. Mas há situações em que pelo facilitismo não se pensa no futuro e muitas crianças deixaram de falar com os seus pais na língua portuguesa, por exclusiva opção paterna. Ter filhos completamente bilingues, no mundo moderno, é das melhores heranças que se podem deixar.

Além disso, é bom não esquecer que o português é a terceira língua mais falada no mundo ocidental, depois do inglês e espanhol. Mais ainda, é mesmo a língua mais falada no hemisfério sul. E tendo presente o que ouvimos no Sheridan, pensamos agora quanto envergonhados estarão aqueles poucos alunos que, publicamente, manifestaram falar só uma língua.

A Direção