O CONFINAMENTO E O AUMENTO DA VIOLÊNCIA

Correio da Manhã Canadá

Portugal e Canadá foram recentemente palco de dois episódios hediondos. No Canadá, no mês passado, Gabriel Wortman foi morto pelas autoridades, depois de ter tirado a vida a 22 duas pessoas, numa zona rural de Nova Scotia. O atentado, que envolveu um incidente de violência doméstica com a namorada do suspeito, chocou, não só pelo número de vítimas, mas também pelo detalhe com que foi planeado. Uma tragédia com contornos maquiavélicos, que já assombra o país como sendo o mais violento deste tipo da sua história.

Em Portugal, mais recentemente, uma menina de nove anos foi encontrada sem vida num eucaliptal, depois de ter sido alegadamente espancada e torturada pelo próprio pai. A autópsia de Valentina revelou que a causa da morte foram agressões violentas. Sandro Lopes já terá, entretanto, admitido ao juiz que agrediu a filha, porque queria saber se a menina era ou não vítima de abusos sexuais ou se teria essas práticas com outros meninos.

Nestes tempos, é inevitável questionarmo-nos sobre se a pressão do confinamento nas relações humanas poderá estar, ou não, relacionada com atos de tamanha violência e desordem afetiva. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde alertou para o aumento de 60%, em alguns países europeus, dos casos de “violência interpessoal” entre parceiros íntimos e contra crianças, durante o confinamento. Deixando um alerta aos governos, a OMS indicou que a pandemia potenciou a perda de empregos, o aumento do consumo de álcool e drogas e, por consequência, a violência.

Também no Canadá, dados apurados sob consulta federal revelam um aumento de 20 a 30% da violência doméstica e de género no país. “Em certos casos, os pedidos de ajuda aumentaram 400%”, contou Maryam Monsef, ministra canadiana das mulheres e da igualdade de género, referindo-se à pandemia como “um barril de pólvora” no que toca a estas questões.

Os números dão que pensar: será que o atentado em Nova Scotia e a morte de Valentina teriam acontecido noutro momento da história? Nunca vamos saber. Mas ao vermos tendências contrárias, como pessoas a cantar à janela para animar os vizinhos, atos de extrema solidariedade entre desconhecidos ou contínuas manifestações de entrega dos profissionais da linha da frente, também concluímos que a pandemia é catalisadora do que melhor existe dentro de nós.

Mais do que a circunstância, é escolha pelo bem ou pelo mal que dita a nossa conduta. Escolhamos o bem, sempre.