MUITA PARRA POUCA UVA

Nas recentes eleições municipais em França, os resultados foram, deveras, desastrosos para os socialistas que estão no poder. O partido conservador UMP do ex-presidente Nicolas Sarkozy, considerado a direita francesa, saiu vencedor com quase 50% dos votos. A esquerda ficou-se pelos 42% e o mais surpreendente foi o partido de extrema-direita, Frente Nacional de Marine Le Pen ter obtido 7%. Nas últimas eleições não tinha conseguido alcançar sequer 1%.

Os socialistas franceses chegaram ao poder porque prometeram ao povo o que, então, Sarkozy não lhes proporcionava.

François Hollande apareceu como a grande esperança, inspirado no discurso da promessa, do facilitismo e do combate à Europa formatada pelo rigor alemão. Mas, passado pouco tempo assistiu-se ao improvável entendimento de Hollande com a chanceler alemã Angela Merkel. De leão passou a cordeiro e os franceses ficaram sem ver cumpridas as promessas, mas também sem o rigor germânico.

A França de Hollande começou por não respeitar a meta do défice público. Por exigência da União Europeia o limite dos défices públicos de todos os países da união, não pode exceder os 3%. A França já vai no segundo ano consecutivo a pedir tempo para ajustamento e o que se sabe é que o défice de 2013 foi fixado em 4,3%. Este valor vem tornar mais difícil os objetivos para o próximo ano.

Em face dos desastrosos resultados eleitorais, o Presidente Hollande fez o mais fácil: substituiu o primeiro-ministro, que agora passa a ser Manuel Valls, considerado um homem de direita dentro da esquerda francesa. O objetivo é contrariar a tendência de crescimento da direita e extrema-direita e, ao mesmo tempo, aborrecer e incomodar os seus parceiros de esquerda. Mas hoje a política é feita destes malabarismos e de ziguezagues constantes.

Por isso, um inquérito recente feito em França apresenta que 60% dos franceses consideram os políticos verdadeiros corruptos; e 80% acham mesmo que os políticos pensam mais em si próprios do que no País.

A França, sempre considerada o País da fraternidade e da igualdade, é um pouco o espelho do que se passa no resto do mundo. É assim que vamos vivendo, com muitos políticos e poucos estadistas; com muita conversa e pouca prática. Ou como se diz lá na nossa terra: com muita parra e pouca uva.

A Direção