LOLA FEITEIRA, UMA LUTADORA NO PAÍS DE GALES

lola1Lola Feiteira é natural de Rio de Mouro, Lisboa. Aos 17 anos percebeu que Portugal não oferecia as mesmas oportunidades que outros países da Europa e decidiu emigrar. Mudou-se para a Bélgica como clandestina, onde se manteve durante três anos e meio. Numas férias conheceu uma pessoa por quem se apaixonou e que a fez ficar em Portugal. Esta relação veio a terminar, mas o amor voltou à vida de Lola, quando conheceu Joe.

Início de uma vida a dois
Lola já tinha a vida organizada em Portugal, mas Joe ainda tinha uma vida financeira instável. Como já conhecia a realidade da vida de emigrante Lola propôs a Joe que emigrassem juntos. No próprio dia começaram a procurar no jornal ofertas de emprego no estrangeiro, nisto um amigo informou-os de que uma empresa estava a levar pessoas para trabalhar no Reino Unido. Ao contatarem essa mesma empresa disseram-lhe que em três dias tinham trabalho no País de Gales, e foi esse o prazo que tiveram para organizarem tudo e partirem rumo a Gales.
Nos primeiros tempos no Reino Unido, Lola e Joe não falavam bem inglês e o trabalho era duro numa fábrica de carne. Lola conta que era um trabalho escravo, pois as condições eram desumanas. Um dia, o frio era tanto dentro da fábrica que as suas pernas congelaram. Estava numa linha a empacotar carne em pé sem se mexer, quando Joe a foi chamar para se ir sentar, Lola não conseguiu mexer as pernas. Teve de ser levada para o hospital onde lhe foi injetado um líquido na parte superior e inferior das pernas para os seus ossos descongelassem.
Ao fim de oito meses, encontraram um novo trabalho numa fábrica de soldadura. Este trabalho era especialmente pesado para Lola, que foi a primeira mulher a ingressar nesta fábrica. Lola diz ser uma mulher «danada para o trabalho» e, por isso, não se deixou abater. Hoje, conta que adorou trabalhar nessa fábrica e que até havia chefes que lhe pediam que trabalhasse menos para não deixar os homens mal vistos.

A doença bateu à porta
Um dia, enquanto trabalhava na fábrica, Lola foi encontrada desmaiada na casa de banho. Foi levada para o hospital e, quando acordou, o médico aproximou-se, tocou-lhe no peito e disse: «é para retirar». E foi assim que Lola soube que tinha um cancro avançado na mama. O patrão foi bastante compreensivo e dispôs-se a pagar todas as despesas. Contudo, no pré-operatório, durante os exames verificaram que Lola afinal não tinha cancro na mama, mas sim, uma inflamação na glândula mamária, que por si só não era nada de grave. Mas, a falta de saúde também atacou Joe que estava com Hepatite C e, por isso, teve de tomar medicação que era incompatível com o tratamento que Lola estava a fazer, na altura, para tentar engravidar. No entanto, Lola já estava grávida e, por isso, foi obrigada a interromper a gravidez. Mas, três meses depois já esperava bebé e, apesar dos riscos, levou a gravidez até ao fim.lola2

«vem para casa, eu estou a morrer»
Durante as remodelações da casa que compraram, Lola estava a pintar os aquecimentos quando sentiu um líquido quente a escorrer-lhe pelo pescoço. Quando abriu os olhos estava completamente cega. Diz ter sentido «a alma a sair-lhe do corpo», pensou que ia morrer. Encheu-se de forças e ligou para o marido: «vem para casa, eu estou a morrer!». Quando chegou ao hospital, Lola já estava inconsciente e foi quando lhe diagnosticaram um derrame cerebral, sendo submetida a duas cirurgias. Durante a primeira, Lola chegou a ser dada como morta. Os médicos informaram Joe que a mulher havia morrido durante a operação. Por sorte, na mudança de turno do hospital, a segunda equipa decidiu fazer uma última tentativa e, foi aí que fizeram uma segunda cirurgia e Lola e o seu bebé sobreviveram ao derrame cerebral.
lola3Os médicos propuseram-lhe o estatuto de incapacitada, para que não voltasse a trabalhar mais, mas Lola teve medo de um dia querer voltar a Portugal e aí não iria ter qualquer apoio. Por isso preferiu continuar a trabalhar. Lola não tem qualquer crença ou religião, mas acredita na força da Natureza e é aí que vai buscar resistências para todos estes problemas que ocorreram na sua vida. Hoje, Lola e Joe já não estão juntos. A doença acabou por dificultar a vivência do casal, mas Lola diz sentir ainda um grande carinho por Joe, que vê como um amigo.