LISBOA COM DOIS AEROPORTOS

Muito se tem falado ultimamente da necessidade de aumentar a capacidade de tráfego aéreo em Lisboa. O aeroporto da Portela, agora designado de Humberto Delgado, já passou os 20 milhões de passageiros por ano e está quase a atingir o ponto de saturação. Muitas rotas já não são abertas precisamente pelos constrangimentos que se verificam em largos períodos do ano.

A possibilidade da construção de um novo aeroporto ficou fora de hipóteses por razões financeiras e políticas, já debatidas nos últimos 10 anos. Agora a fórmula encontrada para resolver esta necessidade de crescimento foi a opção de pôr em funcionamento um segundo aeroporto, a partir de uma infraestrutura já existente. O Governo acaba de anunciar que vão começar os estudos e todos os trabalhos necessários para transformar a Base Aérea do Montijo no segundo aeroporto de Lisboa.

Apesar de a decisão estar tomada, não significa que o futuro venha a ser como agora se pretende. Os estudos de impacte ambiental poderão determinar que o Montijo não reúne as melhores condições. Todos sabem que aquela zona do estuário do Tejo é um paraíso para as aves nidificarem. Também todos sabem os perigos que as aves representam para a navegação aérea. Daí, todas as cautelas deverem estar em cima da mesa quando se anuncia uma infraestrutura desta envergadura. Recordamos apenas que a construção da ponte Vasco da Gama esteve parada 32 dias na margem sul, precisamente na zona onde se pretende que funcione o segundo aeroporto de Lisboa, por causa de um ninho de uma ave migratória que foi descoberto no meio do turbilhão das obras.

Mas vamos acreditar que tudo vai decorrer como se espera e que os técnicos chegarão à conclusão que aves e aviões poderão coexistir na perfeição. Então, dentro de pouco mais de três anos teremos uma parte considerável do tráfego aéreo de Lisboa a desembarcar na outra margem do rio.

Para quem sai do Canadá não será nunca colocada essa hipótese. Pois o aeroporto do Montijo estará destinado para voos de médio curso e, preferencialmente, para as companhias low cost. Os trabalhos deverão começar imediatamente após análise aos relatórios dos estudos técnicos e não se limitam à área do aeroporto, uma vez que muitos outros trabalhos serão necessários em frentes muito diversas. Um dos mais importantes será beneficiar as ligações fluviais entre o Montijo e Lisboa para levar e trazer os passageiros no mais curto espaço de tempo. Também um novo acesso rodoviário à Ponte Vasco da Gama está nas primeiras linhas de prioridades, simplificando as ligações entre os dois aeroportos.

Assim, Lisboa passará a contar com uma capacidade de movimentação para 50 milhões de passageiros. A título de comparação, refira-se que o Toronto Pearson já passou a linha de movimentação de 40 milhões por ano e continua a registar o maior aumento de tráfego em termos percentuais de toda a América do Norte. Espera-se que assim continue e a capacidade não se esgotará tão cedo.

A Direção