JOÃO E SARA, DOIS CORAÇÕES NÓMADAS

sara_joaoJoão e Sara conheceram-se quando João preparava uma viagem à volta do mundo. Sara gostou da ideia e juntou-se aos planos. Cedo perceberam que, para sustentar a viagem, teriam de trabalhar enquanto viajavam. Por isso, depois de alguma pesquisa, escolheram ir para Londres, no Reino Unido, para aprender as bases da restauração, um dos trabalhos com mais saída pelo mundo.
Troços e trajetos
Sara Silva, de 29 anos, é natural de Braga e João Reis, de 35, é de Matosinhos. Antes de se conhecerem já tinham ideias de viver fora do país. Sara sentiu essa necessidade como forma de expandir os seus horizontes profissionais e pessoais, logo depois de terminar o curso, e João estudou na Suécia por dois anos, o que contribuiu para despertar o seu desejo de conhecer outras culturas. Logo ali sentiu que Portugal não seria o destino final.
Começaram em Londres, mas estão no momento a viver em São Paulo, no Brasil. Pelo meio viveram em vários países. Consideram-se “nómadas modernos”. João e Sara contam que desde a sua chegada ao Brasil foram sempre positivamente surpreendidos pela amabilidade e espirito de ajuda que receberam gratuitamente de pessoas que mal conheciam para arranjarem emprego.
Dizem que a comunidade portuguesa tem vindo a crescer no Brasil, com muita gente à procura de oportunidades no país irmão. João e Sara foram acolhidos na sua chegada a São Paulo por dois amigos portugueses que os puseram em contacto com vários elementos da comunidade portuguesa. Contam que nas suas viagens tentam sempre ter contacto com as pessoas locais, o que nem sempre é fácil. Mas, para João e Sara, isso faz parte da riqueza da viagem. Só estabelecendo laços profundos com a cultura nativa se podem considerar verdadeiros viajantes.
sara_joao3A volta ao mundo
O objetivo, ao sair de Portugal, era juntar dinheiro suficiente que permitisse a ambos viajar pela Améria Latina durante alguns meses. E conseguiram-no durante nove meses. Nesse mesmo período criaram um blogue sobre bebidas espirituosas que ainda está em atualização. Sara, que era farmacêutica, está a pensar em especializar-se em Nutrição e João, engenheiro de gestão industrial em logística sustentável agrónoma, esperam poder vir a trabalhar nestas áreas na viagem seguinte.
Desde que começaram as viagens, Sara e João colheram várias histórias boas para contar. A que mais os impressionou foi a oportunidade de voluntariado que tiveram na Nicarágua, com o projeto The Peace Project. Durante alguns meses deram aulas de inglês a jovens crianças Nicaraguenses em Laguna de Apoyo. Sara recorda com carinho o último dia de aulas em que as crianças não a queriam deixar ir embora. Um dos lados mais tristes destas viagens é o contacto inevitável e direto com a pobreza. Contam que em São Paulo, por exemplo, no caminho de cinco minutos até ao metro, veem diariamente várias pessoas a dormir na calçada onde caminham, o que lhes deixa uma grande sensação de impotência.

Nómadas modernos
Pelo facto de terem saído de Portugal para viajar e não propriamente para começar um nova vida, dizem não se considerar emigrantes no sentido mais óbvio da palavra. Querem viver em vários lugares até descobrirem onde querem assentar. Afirmam não ter amarras a Portugal, excetuando a família e amigos, o que mais sentem falta fora de Portugal, e só por isso podem ser equiparados a emigrantes. Já viajaram bastante, mas ainda sonham em conhecer o que lhes falta do mundo. Contam que existem certos confortos culturais de que sentem mais falta quando se partiu há pouco tempo, mas que acabam por ser lentamente substituídos por vivências e aspetos culturais igualmente interessantes dos países que os acolhem.
Para João e Sara, a perspetiva de regressar a Portugal é uma incógnita tão grande quanto a de partir. «Não sabemos o quanto o país e as pessoas mudaram na nossa ausência, e nós também mudámos…», explicam. O casal conta que viajar tem contribuído para alargar os seus horizontes, reciclar objetivos de vida e adotar formas diferentes de viver. Estão neste momento num processo para se tornarem vegans. «Não que isto não fosse possível em Portugal», explicam, mas as pessoas que conheceram e a experiência que tiveram num projeto de permacultura na Nicarágua aceleraram o processo para esta alteração nos hábitos alimentares.

sara_joao1Se pudessem definir esta experiência numa frase escolheriam:
«O Homem não foi feito para ficar no mesmo lugar, fazer a mesma coisa toda a vida, todos nós temos o potencial em nós de fazermos o que nos apaixona e nada melhor que sair da zona de conforto, viajando, para desabrochar o espirito de inovação e criatividade.»
Sara e João não sentem necessidade de voltar a trabalhar em Portugal num futuro próximo. Neste momento a sua ambição é poder viajar por um longo período de tempo e absorverem o máximo que puderem das experiências que lhes vão sendo proporcionadas.
Se pudessem, levavam de Portugal as suas famílias para acompanhá-los nas viagens. Para Portugal, gostariam de trazer a eficiência dos Ingleses, o espírito de descontração dos Caribenhos, o orgulho étnico dos Maias do Belize, a simpatia e abertura dos Colombianos, a alegria contagiante dos Brasileiros e a “pura vida” dos Costa-riquenhos.

sara_joao2Mais do que tudo são Corações Lusos
“Antes de mais, somos corações trekkies, exploradores de novos universos e civilizações. O coração Luso faz parte da nossa identidade original e complementa aquilo em que nos tornámos: cidadãos do mundo.”