INCERTEZAS NO CANAL

Em tempos passados, o jornal britânico “The Times” titulava que a Europa estava isolada, a propósito de uma forte tempestade atmosférica que se registava no Canal da Mancha. Já nessa ocasião, os britânicos tinham uma visão muito própria, mas totalmente invertida, face ao continente europeu. Agora a tempestade é outra e relaciona-se com o referendo que vai realizar-se, depois de amanhã, e que ditará a permanência ou saída do Reino Unido do espaço da União Europeia.

Todas as sondagens apontam para a saída, de forma a que o Reino Unido se desligue, definitivamente, dos parceiros europeus, embora a sua integração nunca tenha sido tão plena como se desejaria. Mas se, pelo contrário, vencer o Sim à permanência, também nada será como dantes, uma vez que os líderes europeus já prometeram ao primeiro ministro, David Cameron, um reforço da sua autonomia face a Bruxelas.

Este será o segundo referendo a que se sujeitam os britânicos para definirem a sua permanência no espaço da União Europeia. O Reino Unido aderiu à então CEE, em 1 de janeiro de 1973 e, em 5 de junho de 1975, realizou o primeiro referendo da sua História e, precisamente, para saber se o seu povo queria continuar nesse espaço. Os britânicos viviam, então, com uma inflação de 20% e os sindicatos eram os principais críticos e defensores da saída, pois não viam na Europa qualquer possibilidade de solução. O resultado foi estrondoso com 67,2% a favor da permanência.

A relação entre o Reino Unido e os restantes parceiros europeus tem sido sempre marcada por divergências e estratégias diferentes. O principal parceiro económico do Reino Unido são os Estados Unidos e para manter uma certa autonomia face a Bruxelas, nunca se admitiu a hipótese de abolir a moeda própria (libra esterlina) e aderir ao
Euro. O espaço Schengen, que mais não é do que uma convenção entre países europeus com fronteiras abertas, integra 22 países da União Europeia e mais três que não fazem parte da UE, a saber, Suíça, Noruega e Islândia.

Pelo que se vê, o Reino Unido nunca perdeu a sua soberania, a sua moeda, nem permitiu que algum europeu entrasse no seu espaço como faz no resto do continente. Como já se disse, mal entraram na UE, pensaram logo em sair. Não o concretizaram na altura, mas agora estão convictos, apesar dos avisos e alertas para as consequências.

A União entre os países europeus promoveu o maior período de paz alguma vez vivido no velho continente. As políticas desenvolvidas contribuíram para um maior equilíbrio e redistribuição de riqueza entre os Estados, mas pelos vistos os britânicos não querem esta união e preferem afirmar a sua Commonwealth. As consequências são imprevisíveis e a Europa conhecerá também no dia 26, os resultados das eleições repetidas em Espanha, onde há mais de 6 meses que não se consegue formar um governo. Já dizia Darwin que o sucesso não está na força nem na beleza, mas na capacidade de nos adaptarmos.

A Direção