
Lisboa, 03 set (Lusa) — Existem quase 30 mil analfabetos em idade ativa, mas poucas oportunidades para aprenderem a ler em adultos. Em Lisboa há cursos com listas de espera e outros que funcionam apenas com a boa vontade de professores voluntários.
Valdemar Marques, de 51 anos, foi parar ao curso de alfabetização da Junta de Freguesia de Odivelas com o sonho de reaprender a ler e escrever. Veio de Angola em 1974, com a vaga de retornados. Tinha 10 anos e a 4.ª classe. Em Portugal estudou até ao 8.º ano, de forma um pouco errática. Cumpriu o serviço militar, fez carreira no exército. Alguns problemas na vida afastaram-no dos livros e passaram uma borracha no que já sabia.
Ir às aulas em Odivelas foi uma demonstração de força de vontade. Valdemar fazia grande parte do percurso a pé: “Eu vivo na parte baixa da Serra da Luz e tinha que subir a serra, que é uma rampa bastante íngreme, até ao Bairro Padre Cruz [Carnide]. Só depois é que apanhava o autocarro”, recorda o aluno, que garante que as aulas compensavam o sacrifício diário: “Nunca faltava, nem quando estava um temporal. E não me custava”, recorda.