E DEPOIS DA TROIKA

Passaram-se três anos de assistência financeira, em que a Troika entrou em Portugal e ditou as regras de como se fazer para que o País funcionasse com o mínimo de normalidade. Era Sócrates que governava e o País apertava o cinto através dos designados Pack 1, 2, 3 e 4. Os Packs de Sócrates retiravam benefícios às pessoas, conforme avançavam no tempo. O governo de então justificava-se com a necessidade de ver aprovadas as decisões que conduzissem aos cortes necessários para que a economia não parasse e os credores se sentissem confortáveis.

Quando se chegou ao Pack 4, e já era voz corrente que iria faltar o dinheiro para pagar salários à função pública, o Parlamento disse basta e acabou-se a governação Sócrates. Mas antes das eleições, que provocaram alteração na governação, ainda foi o governo de Sócrates que negociou com a Troika o programa de assistência financeira, com o beneplácito dos partidos que hoje formam a coligação governamental.

De facto, a vida mudou em Portugal, nos últimos três anos. Foi necessário fazerem-se alguns ajustes, alterar métodos e introduzir novas regras que tardavam a chegar. A crise obrigou a acelerar processos e a encontrar novas soluções. Foram três anos de incertezas, com muita luta social pelo meio, perdas de benefícios, restrições não previstas e incertezas face ao futuro. Portugal passou a viver um dia de cada vez.

O governo atual, que geriu a crise, tinha rejeitado a austeridade imposta pelos socialistas. Estes, por sua vez, que tinham pregado que sem austeridade não se chegava a lado nenhum, passaram a criticar as medidas de contenção, os cortes salariais e toda a política que foi ditada pelo acordo de assistência financeiro. A oposição mais à esquerda, essa nunca esteve efetivamente presente. Apenas se limitou a recusar negociar com credores, a dizer que não se deve pagar dívidas e a prometer o céu na terra, ou melhor, a anunciar coisas boas que qualquer irresponsável gosta de ouvir.

Agora, passados três anos, Portugal volta aos mercados pelo seu próprio pé. A Troika só regressará se os portugueses voltarem a gastar mais do que produzem, o mesmo que dizer se voltarem a não ter juízo. Mas se isso acontecer, o tratamento já não poderá ser o mesmo. As consequências serão bem piores, com resultados imprevisíveis e decerto catastróficos. Por isso, vamos acreditar que os portugueses já se assustaram o suficiente e melhores dias virão com o compromisso de todos. Pelo menos dos que têm a responsabilidade da esfera da governação.