DIESELGATE

Diz o povo e com razão de que se apanha mais depressa um mentiroso do que um coxo e as práticas do dia-a-dia assim o provam na perfeição, não importando a dimensão nem as forças em jogo. Recentemente, o maior fabricante de automóveis do mundo (Volkswagen) foi apanhado numa mentira que lhe pode custar as maiores perdas de sempre. O problema prende-se com questões ambientais e foi descoberto por mero acaso.

A marca alemã está presente em todo o mundo e sujeita-se às regras mais ou menos exigentes em cada local. Recentemente, dois investigadores norte-americanos, ligados ao controlo do ar, e em colaboração com a West Virginia University, decidiram fazer testes a viaturas a diesel, tal como se tinha feito na Europa. Para surpresa geral, os resultados em laboratório não tinham nada a ver com os obtidos na estrada. No meio da confusão gerou-se o confronto entre a marca Volkswagen e a EPA (Agência de Proteção Ambiental) e perante a ameaça de proibição de venda de viaturas em território americano, a VW cedeu, assumiu culpas e agora espera consequências.

Para já deixou de vender motores diesel para os Estados Unidos e Canadá. A desvalorização da marca foi brutal com quedas em bolsa como nunca se imaginaria. A força e a robustez, apanágio dos alemães, construídas desde sempre, sucumbiram num ápice. E o cidadão comum interroga-se sobre em quem deve acreditar, depois de ter visto ao longo da vida como se construiu uma marca assente na maior solidez.

Para além da própria marca, a VW é detentora de outras de grande envergadura: Audi, Bentley, Bugatti, Ducati, Lamborghini, Seat, Porsche, Skoda, MAN e VW Camiões e Scania. A sua origem remonta aos anos 20 do século passado, quando o engenheiro alemão-judeu Josef Ganz idealizou um novo conceito de carro e que viria a revolucionar o que até então se tinha feito em motores. Em 1933, Hitler aproveitou a ideia e defendeu-a como sendo sua, chamando-lhe o carro do povo. O ideólogo do projeto, por ser judeu, foi posto à margem do processo e os primeiros modelos surgiram em 1936, em Stuttgart. Rapidamente se construiu uma nova fábrica que deu origem a uma nova cidade – Wolfsburg. Durante a II Guerra mundial a fábrica foi bombardeada, mas graças aos norte-americanos e britânicos foi reconstruída de forma a ser um dos símbolos da recuperação ocidental.

Já vão longe os tempos do carocha em Portugal e do Beetle na América do Norte e Reino Unido, tal como eram conhecidos os famosos modelos desta marca alemã. Hoje a conceituada VW vai ter que se reinventar para reconquistar mercados. E pelo que estamos a assistir não faltará muito para estar outra vez na ribalta. Afinal, quando se reconhecem os erros, e como diz o povo, alguma compensação virá.

A Direção