DESCULPE QUALQUER COISINHA

Todos estamos recordados que um dos primeiros passos políticos de Passos Coelho, depois de assumir a presidência do PSD, foi pedir desculpa aos portugueses pela aprovação dos vários pacotes de austeridade que o Governo de então, chefiado por José Sócrates, ia sucessivamente apresentando e que fruto de não ter maioria parlamentar necessitava que a oposição não rejeitasse essa política.

Agora, Passos Coelho ocupa o lugar de chefe de Governo e o líder da oposição e secretário geral dos socialistas, António José Seguro, exige que Passos Coelho volte a pedir desculpa aos portugueses pelas medidas de austeridade a que está a obrigar a todos.

Claro que Passos Coelho, enquanto líder da oposição, podia pedir tudo o que quisesse, porque de muito pouco valiam palavras soltas e que apenas preenchiam jornais e espaços televisivos para ganhar projeção.

Agora, enquanto chefe de Governo não pode pedir as mesmas desculpas, pois seria acusado pelo seu direto opositor António José Seguro de fragilidades e, claro, pediria de imediato a sua demissão.

Um político ou um líder que se preze não pode governar ao sabor das emoções. Hoje peço desculpa pelas asneiras de ontem e amanhã se verá…

De facto, assistimos a uma falta de visão e de estratégia em todos os quadrantes políticos. É fácil bater em quem está no poder, porque os tempos são difíceis e a governação não aconselha facilidades.

Mas os que ambicionam ser poder no futuro, também nem sempre escolhem os caminhos sérios e capazes de convencer o cidadão comum. Este está cada vez mais impotente e assiste impávido e sereno a cada ideia que surge sem resultados à vista. A classe política caiu numa encruzilhada de descrédito, por culpa própria.

Os próximos tempos reservam-nos um crescendo dessa tendência. A sociedade civil começa a evidenciar vontade de querer reorganizar-se de outra maneira. Os partidos políticos, pilares da democracia, estão a perder em favor das organizações cívicas. E embora os partidos estejam por detrás dessas organizações, como todos sabem, por que será que não são os próprios partidos a dar a cara em algumas contestações? Eles lá sabem para não terem que se desculpar.

A Direção