DESCONFINAR A TEMPO E HORAS

Correio da Manhã Canadá

Com a covid-19 ainda “à solta”, estará a reabertura das sociedades a acontecer demasiado cedo? Esta é a pergunta de um milhão e as respostas estão longe de ser unânimes. Há quem diga que a pressa é má conselheira, há quem argumente que com regras de distanciamento é possível desconfinar com segurança, evitando danos maiores para a economia.

Olhemos para o exemplo de Portugal, onde os números não são encorajadores. O país, que começou por ser um exemplo internacional na resposta à pandemia, é agora, juntamente com a Suécia, a nação europeia com maior taxa de crescimento de pessoas infetadas. No Canadá, a tendência é inversa. Nas províncias mais afetadas, Ontário e Québec, o número diário de casos tem vindo a decrescer, apesar da reabertura gradual que se tem vindo a verificar.

O que estará, então, o Canadá a fazer de diferente? Como pode Portugal seguir o exemplo e inverter a trajetória de crescimento de casos de covid-19? Não há uma resposta única e a comparação de países é sempre dúbia, considerando as respetivas particularidades, bem como as múltiplas variáveis no que toca à pandemia. Apesar de não haver uma explicação única para o decréscimo de casos no Canadá, alguns especialistas apontam para possíveis razões, como a redução do número de surtos em lares de idosos no Quebec, o aumento de testes e rastreamento em Ontário ou até a natureza de baixo risco das atividades que foram retomadas primeiro, como o golfe ou o ténis.

Em Portugal, há também justificações para a tendência de crescimento: a estratégia de rastreio implementada, a quantidade de testes realizados ou algum descuido no desconfinamento, sobretudo entre os mais novos. Entre notícias recentes sobre festas ilegais com centenas de participantes, sabe-se agora que o número de casos entre os jovens portugueses quase duplicou desde o início da reabertura.

Não há, contudo, explicações suficientemente satisfatórias. Procurar soluções ou leituras coerentes sobre a pandemia é como procurar uma agulha num palheiro. Entre os próprios especialistas, o grau de incerteza é grande e as opiniões frequentemente contraditórias. E isso, pelo menos, é certo: o coronavírus vai ficar na história não só pelo potencial de contágio, mas também pelo grau de confusão que tem gerado.

Na ausência de certezas, o melhor é manter o foco na prevenção e nos cuidados acrescidos. Já diz a sabedoria popular portuguesa: mais vale prevenir, do que remediar.