DEMISSÃO IRREVOGÁVEL E DIVERGÊNCIA INSANÁVEL

A política portuguesa continua igual a si mesma. Ou seja, os dirigentes políticos não param de surpreender tudo e todos, pelas mais diversas razões. Todos sabemos que Portugal está há três anos sob um controlo e vigilância externos, porque gastou-se tudo o que havia e mais o que se esperava que viesse a haver. Na ocasião, gritou-se aqui d’el rei, pois já nem dinheiro havia para pagar salários aos funcionários públicos. Os credores impuseram as suas regras e quem estava aflito aceitou sem pestanejar.

Durante estes três últimos anos, foram impostas aos portugueses restrições duras por forma a corrigir todos os erros do passado. Sob protestos espontâneos ou outros organizados, a população foi dando mostras de grande maturidade e responsabilidade. Claro, que contestações a medidas tão pesadas são naturais e Portugal já tinha a experiência da Grécia que começou antes com estes problemas e, pelos vistos, vai acabar mais tarde.

Os portugueses sentiram e continuam a sofrer com as medidas de correção. Aumentou o desemprego, diminuiu a qualidade de muitos serviços, a emigração voltou a explodir e os salários baixaram, tal como se reduziram outras regalias. Pelo meio, políticos da oposição, sindicalistas e demais opinion makers não se calaram reivindicando não só os benefícios perdidos como aspirando a muito mais. Muitos portugueses têm alinhado nas múltiplas contestações, mas outros há que em silêncio vão suportando a desgraça na esperança de melhores dias. E, efetivamente, essa melhoria parece estar a chegar. Todos os indicadores económicos apontam nesse sentido e serve de exemplo o facto de Portugal ter sido o País europeu que vendeu mais carros novos durante o mês de Fevereiro.

Não obstante este esforço desenvolvido pela população, os políticos parecem esquecer a realidade e passam a vida a delinear estratégias partidárias e, raramente, com o País em mente. O ano passado, o ministro Paulo Portas, quando nada fazia prever, apresentou a demissão irrevogável colocando Portugal numa posição fragilizada. Tal como ele não se incomodou, também agora o líder da oposição, António José Seguro, e de quem se espera o melhor esforço para salvar Portugal, anuncia uma divergência insanável com o Governo, por forma a dificultar o adeus à Troika e o regresso aos mercados e à paz social.

Assim é mais difícil, mas à boa maneira portuguesa espera-se que este insanável de Seguro seja idêntico ao irrevogável de Portas. Em boa verdade também se vai mentindo.

A Direção