ANGOLA MARCA PASSO

Se há dois anos perguntássemos a um angolano, desses que entravam e saíam com frequência do seu País e se passeavam pela América e Europa, como seria o futuro de Angola para a próxima década, com certeza que a resposta seria a mais otimista e a mais fantasiada. Para esses angolanos emergentes já nada pararia a ascensão e o poder das suas carteiras. Muitas vezes a arrogância apoderou-se dessa classe nova rica, que encarava o mundo e o futuro como se nunca tivesse havido passado. E se alguma história menos nobre houvesse nesse passado, a culpa seria dos que, anteriormente, tiveram o poder das decisões.

Os consulados de Angola em algumas partes do mundo recebiam incessantes pedidos de entradas no País. O petróleo era o elo mais forte e tudo o resto era considerado menor. Pensava-se que nunca acabaria e, melhor ainda, que os preços teriam sempre a tendência da subida. Quando se pensava e falava de Angola, a resposta era em dólares. O orgulho era tanto que fazia parte do currículo de muitos angolanos serem concidadãos da primeira mulher multimilionária de África.

É inegável a riqueza natural de Angola. A terra, o mar e o subsolo estão recheados de matérias-primas e de oportunidades. O problema surge depois na orientação e gestão desses recursos. Apesar dos sucessivos avisos e conselhos, Angola não criou as condições de sustentabilidade. Só alguns usufruíram da situação criada e orientaram os seus destinos. O resultado está à vista: o FMI foi chamado a intervir e nos tempos mais próximos vai ditar as regras.

Sem a ajuda da China, o seu principal parceiro económico, Angola não tinha outra solução, senão recorrer à ajuda internacional, pois poderiam estar em risco o cumprimento de várias obrigações, nomeadamente a satisfação salarial dos funcionários públicos. Acabaram-se as facilidades de transportar para o exterior, envelopes, pacotes, malas e caixotes de dólares, simplesmente porque não há e, pior que tudo, desconhece-se quando voltará a haver.

Uma verdade já se sabe: nada será como dantes. O eldorado angolano esgotou-se e agora há que trabalhar e cumprir regras e exigências para se levantar de novo a cabeça. Por isso, não se pode pensar que a presença do FMI em Angola seja uma desgraça ou coisa menos boa para o povo angolano. No imediato, claramente todos vão sofrer, mas a médio prazo espera-se que a situação melhore, uma vez que as contas públicas vão estar, obrigatoriamente, sob controlo e a disciplina orçamental entrará nos hábitos de Luanda.

Daqui se pode concluir que as próximas regras para erguer de novo a economia angolana poderão ser verdadeiras oportunidades para os empresários portugueses onde quer que estejam. Não aqueles empresários que já lá foram a correr para sacar o mais rápido possível o que se poderia arregimentar, mas os outros que preferem trabalhar com regras e gerar riqueza. Às vezes é necessário recuar ao passado para projetar o futuro. E os portugueses sabem bem disso e conhecem essa matéria.

A Direção