Em 10 anos, Andreia Queirós emigrou duas vezes para o mesmo lugar. Na primeira vez, não resistiu à distância e às saudades de Portugal, na segunda vez foi para ficar, é lá que vive, há cinco anos, na longínqua Austrália.
Andreia, 32 anos, sabe bem o que significa emigrar. Numa década emigrou e voltou a emigrar para o mesmo lugar. Tinha, então, 19 anos quando, pela primeira vez, decidiu, juntamente, com o marido emigrar para Austrália, tudo para dar uma vida melhor ao filho.
Andreia é muito ligada à família, pais, irmão, tias, tios, primos, é uma família grande e unida e, por isso, emigrar não estava nos seus planos “nunca imaginei deixar Portugal, mais pela minha família, porque era muito agarrada a todos.” Andreia começou a trabalhar ainda jovem, para ajudar a família. Trabalhou em cafés, restaurantes, numa lavandaria, numa fábrica. Em pequena ajudava a mãe nas limpezas. Andreia considera-se uma lutadora e uma mulher de força e diz com o seu percurso em Portugal a tornou mais forte “quando ia com a minha mãe eu até gostava (…) hoje Agradeço minha Mãe por isso, pois tornei-me mulher mais cedo”.
Três anos depois de estar em Sydney, as saudades falaram mais alto e acabou por se dar o regresso à cidade de Braga, de onde é natural. No peito trazia a esperança, de um país melhor e a confiança de levar a vida para frente. Em Portugal, Andreia e o marido entregaram-se ao trabalho para poderem continuar a dar de tudo aos filhos, que agora eram dois. Contudo, a luta para sobreviver em Portugal acabou por ser inglória, cada vez trabalhavam mais e, cada vez tinham menos qualidade de vida. O tempo para estarem com os filhos ia escasseando porque tinha de trabalhar e, foi assim que, pela segunda vez, Andreia e a família emigrou, “passado três anos de muito trabalho decidimos voltar para a Austrália, tínhamos empregos só que o problema era que não tínhamos tempo para os filhos e isso custou muito, porque só se trabalhava para pagar contas e nem podíamos ter umas férias”, conta Andreia.
A segunda partida foi igualmente dura, tal como na primeira vez. Mas, desta vez, Andreia e o marido já sabiam o que os esperava, já sabiam como doía a distância e as saudades, mas tinham de seguir em frente “ foi horrível, no dia na nossa viagem tivemos um jantar de família e despedi de toda ela , mas de quem eu me lembro mais para o resto da minha vida foi as palavras da minha avo, ela agarrou-se a mim a chorar e me disse – “boa sorte minha neta tem coragem na tua nova vida mas eu nunca mais te vou ver nem aos meninos”- e assim foi passado dois anos ela faleceu com cancro no estômago, infelizmente.”
A adaptação à Austrália, outra vez
Quando emigrou pela primeira vez, Andreia recorda as maiores dificuldades, as questões burocráticas, a língua, a procura de trabalho e as saudades foi o mais difícil de ultrapassar “os primeiros meses foram difíceis e stressantes porque tivemos de tratar da minha legalização, emprego, casa , tudo de novo”, conta. No entanto, na segunda vez, a determinação era outra, iam para ficar, “na segunda vez quando viemos, já viemos mais determinados e arranjei emprego logo na primeira semana num Hotel a arrumar quartos, sem falar inglês, só mesmo o básico, mas passado uns tempos fui me habituando e lá me desenrascava e todos me entendiam”.
A língua continua a ser uma barreira, embora já mais ultrapassada graças à ajuda dos filhos, “ aprendi mais com os miúdos e a ver televisão porque era tudo em inglês, ainda hoje eles se riem de mim se digo algo errado, estou sempre a aprender. Eles são a minha inspiração, depois passado um ano mudei de emprego num supermercado que ainda lá estou hoje , gosto muito do que faço”.
As saudades
Quando se fala em saudades, Andreia salienta a família como o maior motivo “saudades tenho das minhas tias, especialmente da mais nova Ariana porque cresci com ela , a minha tia Céu que sempre me deu todo apoio e força mais forte do que ela não há ninguém ela é o pilar da família e claro os meus pais”.
Sonhos realizados e por realizar
Desde que está na Austrália, Andreia já realizou alguns sonhos, o crescimento da família ( Andreia tem três filhos: Leandro 13 anos, Cristian 10 e Daniel com 23 meses) e a realização profissional são objectivos que em Portugal diz não ter conseguido, “consegui realizar já alguns sonhos desde que cá estou, tenho três filhos coisa que em Portugal jamais dá para sustentar. Tirei um curso de cabeleireira, tenho um emprego que gosto e onde dão valor ao meu trabalho e somos compensados por isso e, só trabalho três dias da semana.”
No entanto, ainda falta algo por realizar, reunir a família e comprar uma casa são objetivos que espera realizar “o meu maior sonho é poder ter cá os meus familiares, nem que seja só de férias. De momento, o nosso maior sonho é comprar casa e estamos a fazer por isso, mas também não deixamos de aproveitar a vida. Graças a Deus não nos falta nada e temos uma vida confortável, coisa que em Portugal jamais, e a diferença cá não ando com stress porque podemos fazer de tudo, trabalhar passar férias, juntar e gozar a vida, sinceramente não sei como pessoas em Portugal vivem”.
Portugal “o mais lindo do Mundo”
Sempre com Portugal no coração, Andreia é mais do que tudo é um verdadeiro coração luso “o que tenho a dizer e que amo a minha vida estou muito feliz em estar cá, mas amo meu Portugal” conclui.