A REFORMA AGRÁRIA

Muitos dos portugueses residentes no Canadá e noutros países abandonaram as suas terras à procura de melhores soluções de vida, porque no País de origem sentiram falta de respostas às suas pretensões. Mas como em tudo na vida, não se pode viver, eternamente, a pensar que as coisas são estáticas precisamente porque as razões e os motivos de ontem podem já não ser os mesmos de amanhã.

A agricultura em Portugal tem sofrido muitas alterações ao longo dos últimos anos. Desde o atraso estrutural dos tempos da ditadura, passando pela propalada reforma agrária idealizada pelos comunistas após a revolução de abril, os verdadeiros progressos e sinais de desenvolvimento só começaram a sentir-se após a entrada para a União Europeia. De facto, e após um período de abandono dos campos portugueses por falta de quase tudo, hoje regista-se com agrado certo respeito pela agricultura e que veio colmatar as crises verificadas na construção e no setor financeiro.

Durante anos sem fim, os produtos agrícolas eram colhidos e consumidos quase de imediato, para não perderem as qualidades e não se deteriorarem. Mais recentemente, há cerca de 200 anos, iniciou-se o ciclo da industrialização, proporcionando que muitos alimentos passassem a ser transformados. Vieram as embalagens e as marcas e o valor acrescentado passou a estar na ordem do dia. Ao contrário do antigamente, os produtos tradicionalmente naturais não são mais os elementos preponderantes da cadeia alimentar, mas antes diferenciam e valorizam a oferta. O melhor exemplo é a sazonalidade dos produtos que foi combatida através dos novos canais de distribuição. Hoje, come-se de tudo em qualquer época do ano.

No caso português, em que sempre se importou mais do que se produziu, nunca sendo autossuficientes, verifica-se agora, através da capacidade dos jovens agricultores, uma verdadeira revolução nos campos, ao ponto de podermos afirmar que finalmente chegou a reforma agrária a sério. Estes jovens empresários começaram a desenvolver novos produtos com redução de custos e aceitaram a certificação dos seus produtos, como garantia de qualidade e de futuro. Há produções que tiveram aumentos significativos como são os casos da beterraba, vinhos de qualidade, citrinos, azeite e tomate.

E por falar em tomate, é bom referir que Portugal é já o sexto maior produtor mundial, num ranking liderado pelos Estados Unidos (Califórnia), e o quarto exportador de tomate transformado. É dos poucos que exporta a quase totalidade da produção. Portugal está inserido nos métodos da Política Agrícola Comum obedecendo aos exigentes padrões de produção europeia, ou seja, a higiene, a segurança e a qualidade alimentares.

Os jovens deram a volta à nossa terra e para quem está longe e se habituou a ver os campos abandonados é bom saber que chegou, finalmente, a reforma agrária. Não a que nos quiseram impingir, mas a verdadeira.

A Direção