A GERINGONÇA BRITÂNICA

O povo do Reino Unido deu o maior puxão de orelhas à sua primeira-ministra, Theresa May, e ao Partido Conservador. As eleições da passada quinta-feira foram convocadas por teimosia e arrogância, para reforçar poderes e esclarecer tudo sobre o futuro britânico e a sua relação com a Europa. Os conservadores imaginaram uma coisa e, afinal, saiu tudo ao contrário.

Theresa May não precisava destas eleições. Ela tinha mandato com uma maioria parlamentar confortável até 2020, mas entendeu que deveria sujeitar-se a um reforço desses poderes, porque a maioria que existia e a suportava tinha sido alcançada pelo seu antecessor David Cameron. Como se sabe, o anterior primeiro-ministro entendeu promover um referendo para se saber se o Reino Unido deveria continuar ou não no seio da União Europeia. Ninguém da sua oposição política tinha exigido tal coisa, apenas dentro do seu partido se discutia esse assunto.

Cameron fez campanha pela permanência do Reino Unido na União Europeia e perdeu. O Brexit teria de ser posto em marcha e a Cameron não lhe restou outra alternativa senão pedir a demissão. Sucedeu-lhe Theresa May que se encarregou de dirigir todo o processo, inédito na Europa, pois as negociações que têm existido são dedicadas a entrada de países e nunca a saídas.

Como sempre, os britânicos quiseram ser diferentes e Theresa May começou a enfrentar a Europa de Bruxelas com a força de uma leoa, exigindo e marcando a agenda política de ambas as partes. Antevia-se que o futuro não iria ser fácil. Theresa May quis mostrar aos seus eleitores ainda mais força e baseando-se nas sondagens que lhe davam uma maioria confortável, com mais de 20 por cento de vantagem, não hesitou em marcar eleições antecipadas. Queria estar fortemente legitimada para chegar a Bruxelas e partir a loiça toda.

O tiro saiu-lhe pela culatra, pois não só perdeu a maioria que tinha no Parlamento, como também já é apelidada de responsável pelo maior erro de cálculo político alguma vez presenciado no seu País. Os eleitores recusaram a maioria forte que Theresa May pretendia e exigia para enfrentar as negociações sobre o Brexit, marcadas para começar no início da próxima semana.

Mesmo assim, sem maioria conservadora, Theresa May insiste em formar Governo e não lhe resta outra alternativa. O Reino Unido só se pode queixar de si próprio, pela forma despropositada como vem encarando a realidade política. No próximo dia 19, será ela a sentar-se à mesa das negociações com Bruxelas, mas com certeza, já sem a arrogância do “hard Brexit” como sempre defendeu.

Theresa May começou por apresentar-se como uma líder forte e incontornável. A “Thatcher” do século XXI queria marcar o ritmo dos outros e, afinal, tão pouco tempo depois, é o seu próprio futuro político que começa a estar em causa. Se estas eleições foram marcadas por causa exclusiva do Brexit, começa a esvanecer-se a força que pretende ver o Reino Unido fora da Europa. Recentemente, a França votou estabilidade e optou pela Europa. Em breve, espera-se que o mesmo se passe na Alemanha, com reconhecimento político a Angela Merkel. Até quando vai Theresa May resistir com o seu Brexit?

JP