A FÉ TAMBÉM ESTÁ NO CONFINAMENTO

Correio da Manhã Canadá

O coronavírus volta, esta semana, a marcar um ponto no jogo travado com a humanidade. Desta vez, toca num ponto especialmente sensível – a fé – ao levar ao cancelamento de uma das práticas católicas mais importantes para os fiéis, e em especial para os portugueses: a peregrinação a Fátima, no dia 13 de maio, em homenagem ao momento em que três pastorinhos reclamaram ter visto a Virgem Maria, em 1917.

Este ano, num momento inédito na história do culto às aparições de Fátima, a peregrinação não será feita com os pés, mas “com o coração”, explica o reitor do Santuário. O padre Carlos Cabecinhas convidou os fiéis a peregrinarem virtualmente, através de orações diárias disponibilizadas online desde a passada semana e do acompanhamento das celebrações na comunicação social e na internet.

A austeridade substitui a habitual presença em massa no Santuário de Fátima. As celebrações contam apenas com aqueles que têm uma função a cumprir na celebração, como padres ou acólitos. Por outro lado, o acesso à cidade portuguesa tem sido estritamente controlado pelas autoridades. Desde dia 9 de maio que a “Operação Fátima em Casa” da GNR está nas ruas, alertando para a impossibilidade de se participar nas celebrações presencialmente.

Os menos conformados com a necessidade de isolamento poderão queixar-se das restrições à peregrinação, como de tantas outras regras nos dias que correm, alegando uma violação dos direitos básicos em democracia, como as liberdades de circulação ou de religião. A maioria, contudo, parece perceber que não há nada no cancelamento que viole liberdades e que, pelo contrário, se trata de uma medida que visa precisamente restituir direitos básicos o mais rapidamente possível.

No dia 13 de maio de 2020, é o vazio no enorme Santuário de Fátima, e não as multidões de peregrinos nacionais e estrangeiros, que promete ficar na história de Portugal, da religião e do mundo. Uma imagem forte, não só por ser inédita, mas sobretudo por mostrar – como este vírus tem feito sistematicamente – que o vazio e o silêncio também são plenos de significado.