A COISA ESTÁ AO RUBRO

A política em Portugal está mergulhada numa verdadeira confusão. O País ainda está a viver a desvinculação da Troika, que durou três anos sob controlo apertado dos credores e, no momento de levantar a cabeça e olhar o melhor caminho, descobre-se que no horizonte há tudo menos certezas. A continuar assim, os credores podem tornar-se ainda mais exigentes e as consequências serão imprevisíveis, apesar de muitos responsáveis continuarem a olhar para o seu umbigo e apregoarem discursos que qualquer ignorante adora ouvir.

O Partido Socialista foi o mais votado nas recentes eleições para o Parlamento Europeu. Aliás, esta foi a segunda vitória eleitoral obtida por António José Seguro, enquanto líder socialista. Antes tinha vencido as eleições autárquicas. No entanto, isso não lhe dá legitimidade para exigir eleições legislativas antecipadas, mas parecia alimentar esperanças para o futuro.

Mas qual futuro? Quando tudo parecia indicar que as baterias estavam apontadas ao Governo, tanto mais que os comunistas já apresentaram mais uma moção de censura, eis que o PS vê-se mergulhado numa crise, cujo desfecho está longe de ser clarificado. António Costa, o atual Presidente da Câmara de Lisboa, lança pela terceira vez um ataque à liderança do PS, com a argumentação de que a recente vitória eleitoral não foi suficientemente expressiva, de modo a garantir um volte face nas próximas eleições.

António Costa não está só. Conta com muitos apoios, incluindo a forte influência de Mário Soares. Seguro sente-se traído pelos camaradas de partido e anuncia que só se demitirá se militantes e simpatizantes assim determinarem numa espécie de eleições primárias. Coisa nunca vista em Portugal e que vai demorar o seu tempo.

Até aqui, Seguro foi igual a si mesmo. Quando o País lhe pedia para assinar um pacto de regime com o Governo, para que Portugal saísse o mais rapidamente da crise, que o seu próprio partido tinha provocado, e assim dar um sinal de esperança aos mercados e especialmente aos credores, Seguro seguiu os conselhos dos mais duros do PS e nunca assinou tal pacto. Agora, são esses mesmos que lhe preparam a saída.

Enquanto isto, o Governo que deveria estar preocupado com o desastre eleitoral, já não tem que perder tempo com isso, mas sim com o Tribunal Constitucional, que mais uma vez chumbou medidas essenciais para garantir o controlo orçamental. Os funcionários do Estado não vão ser afetados nos cortes salariais e, para compensar, o aumento de impostos está novamente em cima da mesa.

Perante esta confusão, só falta que o Governo aproveite o que se passa no seio do PS e com as decisões implacáveis dos juízes venha apresentar a sua demissão e, assim, provocar eleições antecipadas para o final do verão. Seria um desastre, mas como a coisa está, tudo é possível.

A Direção