Líder liberal Justin Trudeau participou num comício em Brampton

Foto: Bosco da Costa
Foto: Bosco da Costa

Uma campanha indefinida e marcada por manifestações violentas incomuns na política canadiana. Antes mesmo das urnas serem abertas na próxima segunda-feira, as eleições de 2021 já entraram para a história.

Ninguém é capaz de prever o resultado das urnas na próxima segunda-feira. As eleições federais canadianas mantêm-se completamente indefinidas, com os conservadores e liberais num empate técnico.

Desde que as eleições foram convocadas pelo atual primeiro-ministro, Justin Trudeau, as pesquisas têm oscilado entre o partido liberal de Trudeau e o conservador de Erin O’toole.

No dia 13 de agosto, antes das eleições serem convocadas, os liberais lideravam as pesquisas com uma certa vantagem. Tinham 35,8% das intenções de votos contra 28,7% dos conservadores.

Poucos dias depois das eleições serem anunciadas, no dia 4 de setembro, os conservadores ultrapassaram os grandes concorrentes. O partido de O’toole cravou uma liderança com 34,1% das intenções de votos contra 31,2% dos liberais.

E agora, novamente outra mudança. Os liberais recuperaram a liderança com 31.9%, mas os conservadores seguem logo atrás com 31,3%, uma diferença de apenas 0,6%, o que significa que as eleições estão tecnicamente empatadas dentro da margem de erro das pesquisas.

A eleição de 2021 já é histórica, não só pela extrema imprevisibilidade no resultado, como também pelo contexto político e social totalmente único e inédito na história do Canadá.

Trudeau convocou as eleições no dia 15 de agosto, acreditando que sua alta popularidade pelo combate à pandemia se refletiria nas urnas. Mas o que viu foi uma onda de críticas por convocar o pleito em plena quarta onda da pandemia da covid-19.

Até mesmo membros do próprio partido de Trudeau não concordaram com a convocação das eleições. Hazel Mccallion, ex-presidente da câmara municipal de Mississauga, criticou a convocação das eleições logo após participar no comício de Trudeau na última segunda-feira.

A eleição retrata uma sociedade dividida e com os ânimos em alta. Enquanto Trudeau é aplaudido pela maioria dos canadianos pela forma como atuou durante a pandemia, há uma parcela que acha que o combate à covid-19 excedeu os limites das liberdades individuais.

Divergências sobre a exigência de vacinação em locais públicos, restrições de deslocamento e as políticas emergenciais de transferência de rendimentos, criaram a tempestade ideal para uma eleição inflamada.

Durante a campanha, manifestantes da oposição tentaram atrapalhar a todo custo os pronunciamentos do primeiro-ministro. Fizeram barulho durante as conferências de imprensa, exibiram cartazes pedindo o enforcamento de Justin Trudeau, e chegaram mesmo a atirar pedras ao primeiro-ministro.

Tamanha violência durante uma campanha é extremamente incomum em eleições no Canadá. Diante de todos esses ataques, Justin Trudeau conseguiu manter a postura e a educação, mas quando um manifestante em Vancouver insultou a esposa e família do líder liberal com expressões machistas, Justin Trudeau respondeu.

Na reta final da campanha, o líder liberal intensificou a sua agenda. Na última segunda-feira participou num comício em Brampton, onde foi recebido por centenas de apoiantes. Apesar dos pedidos da organização para que todos mantivessem o distanciamento social e ficassem separados, muitos apressaram-se para tentarem aproximar-se ao máximo do palco, gerando aglomerações.

O ex-primeiro-ministro liberal, Jean Chrétien, numa rara aparição pública, abriu o evento. Defendeu o voto no colega de partido e refletiu sobre um mundo em crise.

Justin Trudeau subiu ao palco logo de seguida e foi ovacionado pelo público. No seu discurso, a defesa do combate à pandemia e o plano de recuperação liberal. Trudeau encerrou com um apelo aos apoiantes para que intensifiquem a campanha.

Numa corrida eleitoral completamente indefinida, com os resultados das urnas poderem pender tanto para os conservadores quanto para os liberais, os canadianos terão de esperar até ao último minuto para saberem quem será o novo primeiro-ministro do Canadá.