
As recentes e polémicas descobertas de restos mortais de crianças indígenas nos terrenos da antiga escola residencial em Kamloops deu origem a uma investigação. Os resultados do primeiro relatório preliminar foram divulgados hoje e preveem que mais corpos estejam enterrados nos restantes hectares da escola de British Columbia.
O número de crianças que podem estar enterradas em sepulturas não-marcadas e indocumentadas no terreno da antiga Escola Residencial Indígena de Kamloops, em British Columbia, pode ser muito maior do que as 215 que já foram descobertas no final de maio. As crianças, algumas de apenas três anos, eram alunos dessa escola residencial, que já foi a maior do sistema escolar residencial do Canadá.
Foi a conclusão a que os especialistas chegaram durante uma primeira investigação do primeiro caso nacional das descobertas dos restos mortais das crianças indígenas. As informações foram divulgadas na manhã de quinta-feira.
Uma especialista em radar de penetração no solo (GPR), que fez parte da investigação, disse que há muito mais trabalho a ser feito.
Cerca de dois hectares foram digitalizados na zona de um pomar de maçãs localizado perto da escola residencial. Esse local foi escolhido com base nos relatos dos sobreviventes e na descoberta de um osso de costela e um dente juvenil durante outra escavação. Mesmo assim, faltam ainda serem examinados mais de 160 hectares. E, segundo os especialistas, “é muito provável que ainda haja uma série de sepulturas humanas na área”.
A chefe de um Governo das Primeiras Nações de Kamloops, Rosanne Casmir, classificou as descobertas de “um capítulo sombrio histórico” no Canadá. E garante que os povos indígenas ainda estão “muito vivos para as repercussões sentidas hoje”.
Casmir acrescentou que a Igreja Católica, que administrava a escola anteriormente ao antigo Governo federal, tem recusado a fazer um pedido de desculpas formal pelo papel no sistema escolar residencial. E a chefe indígena quer que os registos das matrículas de todas as escolas residenciais sejam disponibilizados para auxiliar na investigação.
No entanto, já se começam a assentir os efeitos negativos das mais recentes descobertas. Uma Primeira Nação no norte de Manitoba declarou um estado de emergência e pediu às autoridades federais e provinciais ajuda urgente para lidar com uma crise de saúde mental na comunidade.
Ao que tudo indica, registam-se suicídios de jovens indígenas nos últimos 14 meses. Nove jovens entre os 15 e os 19 anos morreram por suicídio na comunidade, no último quase ano e meio. e outros tentaram o suicídio e praticaram automutilação.
A comunidade indígena está a pedir aconselhamento de saúde mental 24 horas, um centro de assistência para crises e um compromisso de proteger os jovens e as pessoas vulneráveis das drogas ilícitas e do contrabando.
Mas nem todos os suicídios tiveram a ver com dependências químicas. O isolamento devido aos bloqueios da pandemia da Covid-19 e as recentes descobertas dos restos mortais não-identificados nas antigas escolas residenciais em todo o Canadá tiveram um grande impacto na saúde mental da comunidade.
A Primeira Nação disse que procurou equipas móveis de crise de várias organizações e fez pedidos de ajuda à Health Canada, ao Indigenous Services, à RCMP e ao Governo provincial de Manitoba.
