
Os dias passam e continuamos em casa. Aos poucos, a quarentena deixa de ser percecionada como um momento excecional, mas como a regra que dita a nossa atual existência, com tudo o que isso implica em termos de readaptação de rotinas e de estado de espírito. Entre alguns, o momento começa a ser encarado com profundo aborrecimento. Entre outros, agravam-se as angústias financeiras e sociais provenientes do dever de isolamento. “Ainda só está a começar”, ouve-se frequentemente, numa frase que incomoda, mas que deve ser encarada, sob pena de perdermos o norte, nestes dias de acrescida necessidade de equilíbrio.
No meio destes estranhos dias da pandemia da COVID-19, surge a Páscoa, e com ela, a tentação de nos reunirmos, finalmente, com quem já não vemos há tantos dias. A Páscoa que, como outras celebrações religiosas, é, por definição, um momento de partilha, de presença, de família, foi-nos tirada este ano, por causa de um vírus. É difícil de acreditar, mas é mesmo assim, e a tentação de nos juntarmos deve servir, sobretudo, de lembrete de que o destino desta história está nas nossas mãos e de que devemos, por isso, persistir e continuar a seguir as recomendações das autoridades de saúde pública, mantendo-nos em casa.
Curiosamente, a quarentena aproxima-se muito mais da Páscoa do que possamos imaginar. Os mais católicos ou informados saberão, certamente, que a quaresma, período de 40 dias que antecede a principal celebração do cristianismo – a ressurreição de Cristo – é um momento de reflexão e de conversão espiritual, que alude aos 40 dias passados por Jesus no deserto, bem como aos sofrimentos por ele suportados na cruz, que nos ajudam a relativizar os nossos próprios problemas na atualidade.
Esta Páscoa, convidamos os nossos leitores, crentes ou não crentes, a olhar para a quarentena como uma verdadeira quaresma: um momento de transição, de introspeção, de aprendizagem, de aceitação e de respeito pelo outro, que anteceda uma ressurreição de nós próprios, individualmente e enquanto sociedade.
Estas são mensagens presentes a longo desta edição do Correio da Manhã Canadá, não só na entrevista à deputada federal Julie Dzerowicz ou no anúncio da nova plataforma da governadora-geral do Canadá, mas também nas inúmeras notícias que, daqui a uns anos, serão verdadeiros registos históricos de uma resiliência das pessoas à escala global, talvez nunca antes vista.
Boa Páscoa!