600 ANOS DE CEUTA

Foi há 600 anos (22 de agosto de 1415) que as tropas portuguesas, comandadas pelo Rei D. João I, conquistaram a cidade de Ceuta, no norte de África. Ceuta é um istmo com duas baías, com vistas para a Península Ibérica e para Marrocos. Está localizada na perfeita divisão entre o Atlântico e o Mediterrâneo. Há 600 anos, Portugal tinha saído de uma crise política profunda, depois da tentativa de Castela ocupar o território português. A melhor resposta foi vencer no campo de batalha e depois ampliar o território com a conquista de Ceuta e chegar-se a todo o mundo.

As causas da conquista prendem-se com questões geoestratégicas, religiosas, sociais, económicas e políticas. A partir de Ceuta Portugal aumentou a sua influência e importância junto de outros reinos católicos, passando também a controlar o tráfego do mediterrâneo. O Papa Martinho V reconheceu a posse do território atribuindo-lhe uma diocese dois anos depois. Ceuta sempre foi reconhecida como uma possessão portuguesa e tudo isso está bem explícito no Tratado de Tordesilhas (1494) quando Portugal e Espanha dividiram o mundo.

Mas aconteceu que, em 1580, uma nova crise política se abateu em Portugal com a morte do Rei D. Sebastião, precisamente numa batalha no norte de África, quando ambicionava ampliar ainda mais o território naquela zona. Espanha ocupou Portugal durante 60 anos e passou a controlar não só toda a Península Ibérica, como todos os territórios de além-mar. Com a Restauração de 1640, Portugal reassumiu a independência e lutou por recuperar todas as possessões perdidas. Ceuta, que tinha sido o primeiro símbolo da expansão, nunca mais voltou a ser portuguesa. O fidalgo que mandava na cidade recusou-se a baixar a bandeira do reino de Espanha e hastear a portuguesa. Portugal aceitou as novas regras, mas a bandeira de Ceuta ficou a mesma, ou seja, composta por gomos brancos e pretos como a bandeira de Lisboa e ao centro o escudo português. Hoje ainda continua assim.

Já sob jurisdição espanhola Ceuta foi, sucessivamente, cercada e atacada por marroquinos, ingleses e holandeses. Quando os ingleses tomaram Gibraltar em 1704, Ceuta resistiu e foi sempre orientada pelos interesses de Madrid. Foi a partir de lá que, anos mais tarde, as tropas franquistas avançaram para destroçar o governo republicano na guerra civil espanhola. Hoje, Ceuta é uma Comunidade Autónoma do reino de Espanha, apesar das sucessivas reivindicações de Marrocos na sua inclusão territorial.

Uma sondagem recente revela que a esmagadora maioria dos espanhóis querem Ceuta espanhola. Ao mesmo tempo reivindicam a saída de Inglaterra do rochedo de Gibraltar. Paradoxo ou contradição, o certo é que Ceuta, seja de quem for, ostenta múltiplos símbolos portugueses, incluindo estátuas, monumentos, a calçada dos passeios e a própria bandeira. Contra vontades e tendências, a História de Ceuta escreve- se em português desde há 600 anos.

A Direção