O presidente de Toronto John Tory tem uma grande decisão para fazer, uma decisão que parece ser só dele, e ele não tem muito tempo.
Ele tem de decidir até 15 de setembro se Toronto vai apresentar uma proposta formal para sediar os Jogos Olímpicos de verão de 2024.
Tecnicamente, é um comité olímpico do país que envia a nomeação de uma cidade-sede para o Comité Olímpico Internacional (COI).
Mas o presidente do Comité Olímpico Canadiano Marcel Aubut já indicou estar à espera de uma decisão de Tory, algo que o presidente de Toronto disse que não tomaria antes do encerramento dos Jogos Parapan, que aconteceu no sábado passado.
De acordo com aqueles que seguem de perto o processo, tudo o que o presidente tem que fazer é dizer sim para o COC.
Obviamente, Tory não vai avançar para algo desta magnitude, a menos que ele sinta que tem o apoio de outros níveis de governo e da comunidade empresarial.
Mas ele por certo alimentou ainda mais a especulação quando o seu gabinete confirmou que ele teve uma reunião privada na semana passada com Aubut e Bob Richardson, o diretor de operações da candidatura olímpica 2008 de Toronto.
Uma coisa provavelmente a pôr Tory de pé atrás é que este também disse que não quer ser o presidente que persegue uma terceira candidatura olímpica de Toronto que, no final, venha a fracassar. E há muitos nos Media, pelo menos, que sentem que o COI está ansioso por ver os Jogos de verão regressar à Europa em 2024, após estas próximas duas edições (Rio de Janeiro e Tóquio) no exterior.
Outro problema é que o COI está no meio de mudar o processo de candidatura, aparentemente na causa de responsabilidade e transparência, e ninguém parece saber neste momento quais serão os novos prazos e regras.
Recuperar uma candidatura?
Toronto estava a estudar a possibilidade de apresentar uma terceira candidatura olímpica até janeiro de 2014. Foi quando o comité de desenvolvimento económico de Toronto decidiu por unanimidade contra uma.
Isso acabou com a discussão e o debate, assim parecia. Isto é, até cerca de um mês antes dos Jogos Pan-Am começarem em julho.
Numa entrevista exclusiva ao Toronto Star, Aubut incentivou uma candidatura de Toronto às Olimpíadas de verão. “Estou absolutamente convencido de que Toronto está pronto”, disse ao The Star.
Convém sublinhar que outras cidades estão muito à frente de Toronto na preparação das suas propostas, diz Rob Livingstone, que dirige o site GamesBids.com, que pretende ser uma fonte independente do processo de candidatura.
Essas cidades incluem Budapeste, Hamburgo, Paris, Roma e Los Angeles, entre outras, diz Livingstone, jornalista e analista sediado em Toronto.
Mas ele diz que isso não é necessariamente um problema porque é só depois de 15 de setembro que o trabalho pesado tem de ser feito – inclusive receber garantias de financiamento da Assembleia Municipal, da província e do governo federal.
Um estudo de viabilidade (2013) colocou o custo de preparar uma pré-candidatura de análise em 1 milhão de dólares, e o preço para Toronto passar apenas pelo processo de candidatura entre 50 e 60 milhões de dólares.
Se Toronto efetivamente se candidatar, o financiamento federal poderá tornar-se um problema na eleição federal de 19 de outubro, com os líderes dos partidos federais, sem dúvida, a serem “obrigados” a dar a conhecer as suas posições.
Confusão no processo de candidatura
O COI está no meio de mudar o processo de candidatura, e Livingstone diz que no início de agosto este “embaralhou a forma como o processo de candidatura vai funcionar desta vez”.
Em 2014, o COI anunciou uma nova direção, o que apelidou de Agenda 2020. O objetivo é abordar as questões de sustentabilidade e responsabilidade em torno dos Jogos, que foram ficando cada vez maiores e mais caros, fazendo com que algumas cidades desistissem.
Após a estimativa de 51 mil milhões de dólares gastos nos Jogos Olímpicos de inverno de Sochi, na Rússia, apenas duas cidades formalizaram uma candidatura para os Jogos de inverno de 2022, o que, em última instância foram atribuídos a Pequim.
Janice Forsyth, que recentemente deixou o cargo de diretora do Centro Internacional de Estudos Olímpicos da Western University em London, Ontário, considera a falta de clareza sobre o processo de candidatura do COI bastante frustrante.
O COI não ganhou uma medalha de ouro para a transparência, nem tem sido favorável às agendas municipais, aponta Forsyth, uma observação que também constava no estudo de viabilidade (2013) de Toronto.
A maioria das cidades dos Estados Unidos que fizeram uma candidatura ou estão a considerar uma tiveram essas conversas, refere, ressaltando que, em Boston, onde havia queixas sobre a falta de transparência em torno da candidatura da cidade aos Jogos 2024, a oposição tornou-se tão forte que Boston acabaria por retirar-se do processo de candidatura.
O apoio público para os Jogos é crucial, salienta Forsyth, mesmo nesta fase inicial, com o COI a não querer ir para onde não há um apoio público, especialmente no âmbito da Agenda 2020.
Apesar da confusão em torno da Agenda 2020 do COI, Forsyth ainda sente que os Jogos 2024 estão em disputa, agora que o COI está preocupado com a sua própria imagem e procura pôr para trás das costas recentes escândalos.
Fonte: CBC News