O MUNDO EM SUSPENSO

Correio da Manhã Canadá

Ainda é difícil de acreditar. O que começou como uma notícia mais ou menos longínqua, que afetava a China e parecia tardar em chegar, impôs-se, finalmente, com todo o peso da realidade. O COVID-19, vírus cujo nome certamente nunca mais vamos esquecer, fez-nos mergulhar num filme de ficção científica, sem que estivéssemos preparados para isso, levando-nos a questionar os nossos hábitos, as nossas prioridades e a nossa quota-parte de responsabilidade no processo.

Entre os milhares de conteúdos que circulam atualmente nas redes sociais – com o aumento de pessoas em casa, a Internet é, mais do que nunca, o veículo de comunicação de eleição – há um que se destaca. No vídeo intitulado “carta do COVID-19 para a humanidade”, uma voz italiana apela a que escutemos, a que paremos, num discurso que faz do vírus o porta-voz da natureza e do ser humano o agente da catástrofe, mas também da mudança.

“Chega de aviões, comboios, escolas, centros comerciais, encontros. Vocês não podem comportar-se como se fossem deuses. A nossa obrigação é recíproca, como sempre foi, ainda que vocês se tenham esquecido. Não estamos bem, nenhum de nós. No ano passado, a tempestade de fogo que queimou os pulmões da terra não vos fez parar. Vocês não escutaram. Eu ajudo-vos. Vou enviar uma tempestade de fogo para os vossos corpos, vou alargar os vossos pulmões, vou isolar-vos como os ursos polares que boiam nos icebergues no meio do oceano. Vocês escutam agora? Não sou um inimigo, sou um mero mensageiro, um aliado. Sou a força que restabelecerá o equilíbrio”, pode ouvir-se.

As palavras fazem pensar. Numa altura em que urge a procura de soluções para o presente, poderá ser cedo, ainda, para olhar para o passado e atribuir culpas aos culpados. Não deixa de ser interessante, contudo, observar esta nossa súbita perda do controle e como o isolamento social em massa já está a dar efeitos benéficos para o ambiente, como a redução das emissões diárias de CO2 em um milhão de toneladas.

Como nos reergueremos depois desta crise é ainda uma incógnita, mas esta certeza imposta de que, afinal, não somos os “donos disto tudo” já está a ser um importante exercício de humildade e de descredibilização de visões antropocêntricas, que tantos efeitos nocivos já tiveram no planeta. A verdade é que sempre nos queixámos do nosso modo de vida, mas poucas vezes nos esforçámos para mudar. Não estará, finalmente, na altura?