UM RECOMEÇO AUSTERO PARA JUSTIN TRUDEAU

Correio da Manhã Canadá

Quem assistiu à tomada de posse há quatro anos não poderia prever o cenário em 2019. Justin Trudeau, que em 2015 surgiu triunfante e com promessas de “caminhos ensolarados” para o Canadá, regressa, agora, com um estado de espírito manifestamente mais sombrio.

O discurso do primeiro-ministro em Rideau Hall foi breve, em contraste com a intervenção de 2015, que contou com uma plateia entusiástica. Desta vez, pouco mais de uma dezena marcou presença na apresentação do novo executivo, entre jornalistas e funcionários do governo.
A austeridade da cerimónia reflete não só a vitória agridoce de Trudeau – que perdeu, nestas eleições, a maioria absoluta – mas também as dúvidas e dissidências em torno do recém-formado governo. Entre os desafios dos liberais neste mandato, incluem-se o separatismo no ocidente e o nervosismo no setor energético.

O líder conservador Andrew Scheer não tardou a criticar a nova composição federal, alegando que a repetição de caras significa também a repetição dos erros do passado. Postura semelhante à do dirigente do NDP Jagmeet Singh, que não parece convencido com a nomeação dos sete novos ministros, de um total de 37, incluindo Trudeau.
Promovida a vice-primeira-ministra e cumulativamente responsável pelos assuntos intergovernamentais, Chrystia Freeland é uma das apostas do líder liberal. A nomeação foi aplaudida por alguns, mas é também vista com ceticismo por outros, como é o caso de Yves-François Blanchet, do Bloc Québécois, que alerta para a impossibilidade de reconciliar o Canadá.
De Ontário e Alberta, surgem vozes surpreendentemente positivas. Os respetivos premiers, Doug Ford e Jason Kenney, deram as boas vindas ao executivo, substituindo o tom acusatório pela aparente vontade de trabalhar em conjunto com o novo gabinete.

Como nem tudo o que é dito é feito, é difícil fazer previsões. Resta esperar que os “caminhos ensolarados” de 2015 reocupem não só discurso, mas sobretudo as ações de Trudeau, de 2019 em diante.