
Joanesburgo, 15 mar (Lusa) — Nove polícias compareceram hoje num tribunal da África do Sul para serem ouvidos sobre a morte de três mineiros em 2012, caso que precedeu a repressão mortífera das forças policiais a uma greve de mineiros em Marikana (norte).
Os nove agentes são os primeiros a serem oficialmente ouvidos no âmbito do que ficou conhecido como o “Massacre de Marikana”, que se saldou com a morte de 34 grevistas, abatidos pela polícia.
O massacre, o pior registado no país desde o fim do regime de segregação racial (“apartheid”), em 1994, desencadeou uma violenta vaga de greves nas minas de todo o país, causando mais de seis dezenas de mortos.
Então membro do Conselho de Administração do grupo britânico Lonmin, proprietário da mina de platina de Marikana, o novo presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, foi acusado de ter feito pressão para a intervenção da polícia, visando acabar com a greve.
No entanto, numa investigação posterior, uma comissão de inquérito aos incidentes acabou por ilibá-lo da qualquer acusação.
Segundo a “polícia das polícias” sul-africana, a Ipid, os nove polícias inquiridos hoje no julgamento são acusados de envolvimento, dias antes do massacre de 16 de agosto de 2012, na morte de três mineiros, estando sob custódia judiciária pelo menos até à próxima audição, prevista para junho.
Dois dos mineiros foram mortos em confrontos violentos com a polícia, que viu também dois agentes serem mortos, mas as vítimas “não representavam qualquer ameaça” às forças de segurança, destacou o procurador do Ministério Público sul-africano.
O corpo, sem vida, do terceiro mineiro foi encontrado pouco depois dentro de um carro da polícia.
A comissão de inquérito oficial então criada concluiu, em 2015, que o “essencial da responsabilidade do massacre” coube à polícia sul-africana.
A então comandante da força policial da região, Riah Phiyega, acabou por ser suspensa pelo, na altura, Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, mas nenhum outro agente da polícia foi responsabilizado ou julgado.
O Governo sul-africano de então disse que iria pagar eventuais indemnizações às famílias das vítimas, mas, mais de cinco anos depois, ainda não o fez.
A 20 de fevereiro último, Ramaphosa afirmou estar “determinado” em “curar as feridas” resultantes do massacre.
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Cidade do Cabo, África do Sul, 20 fev (Lusa) — O novo Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, afirmou-se hoje determinado a “curar as feridas” do massacre de 2012 em Marikana, quando a polícia abriu fogo e matou 33 mineiros e um dos administradores da empresa Lonmin.
“Aproveito esta oportunidade para salientar o papel que desempenhei, enquanto um dos diretores da Lonmin, nos acontecimentos dessa trágica semana. Estou determinado a desempenhar o papel que me incumbe para sarar as feridas”, afirmou Ramaphosa, ao discursar no Parlamento da África do Sul, situado na Cidade do Cabo (sudoeste).
A 16 de agosto de 2012, 34 funcionários da Lonmin, entre elas um dos administradores, foram mortos na mina de platina de Marikana (norte) depois de a polícia abrir fogo sobre uma multidão de grevistas, alguns deles empunhando armas tradicionais.
O massacre, o pior desde o fim do regime de segregação racial (“apartheid”), em 1994, desencadeou uma violenta onda de greves nas minas sul-africanas.
Nos vários incidentes então registados morreram cerca de seis dezenas de trabalhadores.
Segundo a agência noticiosa France-Presse, Ramaphosa, à época membro do Conselho de Administração do grupo mineiro britânico Lonmin, foi alvo de suspeitas de pressão sobre a polícia, no sentido de esta por cobro à paralisação.
O agora chefe de Estado da África do Sul acabaria por ser inocentado na comissão de inquérito que foi, entretanto, criada, apesar de alguns dos seus adversários políticos continuarem a considerá-lo suspeito.
Em 2015, o líder populista Julius Malema, do partido da esquerda radical Combatentes pela Liberdade Económica (EFF), acusou Ramaphosa de ser um “assassino”.
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