Timor-Leste/Eleições: Líder do KHUNTO diz que partido vai decidir quem apoia na 2ª volta

Díli, 22 mar 2022 (Lusa) — O líder do KHUNTO, que integra a coligação governamental timorense e apoiou o terceiro candidato mais votado nas presidenciais de sábado, disse hoje à Lusa que o partido vai reunir-se para decidir quem apoia na segunda volta.

“O KHUNTO vai agora reunir as suas estruturas para tomar uma decisão clara para os militantes relativamente à segunda ronda”, em 19 de abril, disse o líder do partido, José Naimori, à margem da cerimónia de posse de quatro membros do Governo timorense.

A vice-primeira-ministra e candidata às presidencias Armanda Berta dos Santos, mulher de Naimori, foi o terceiro candidato mais votado, no sábado, com 8,7% dos votos (56.289).

O resultado significa também uma melhoria do apoio ao partido, desde as legislativas de 2017, quando obteve 6,43% dos votos e ultrapassou o Partido Democrático (PD), cujo candidato, Mariano Assanami Sabino, foi o quinto mais votado no sábado com 7,26% (tinha tido 9,79% nas legislativas de 2017).

Naimori justificou a melhoria com a “grande mudança na situação política do país” e uma campanha “a trabalhar com a nova geração, dando exemplos ao povo”, o que permite ter “esperança de um bom resultado nas legislativas de 2023”.

“A política é um instrumento para o desenvolvimento nacional e falámos com o povo, procurando contribuir para esta festa da democracia, mobilizando o apoio”, referiu.

A crise política, que começou em 2017 em Timor-Leste, impulsionou o KHUNTO para o papel de ‘fazedor de Governos’, com o partido a ser essencial para a sobrevivência do atual executivo, ainda que, ‘saltando’ de parceiros de aliança.

Uma posição que permitiu ao KHUNTO exigir mais para viabilizar o Governo, onde tem proporcionalmente mais membros do que o peso parlamentar, face ao PLP do primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, ou ao Conselho Nacional de Reconstrução de Timor (CNRT) de Xanana Gusmão (na primeira versão do Governo), ou da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin) de Mari Alkatiri (na atual configuração).

Antes das eleições e apesar dos discursos públicos de confiança, membros da direção do KHUNTO admitiaram algum receio no voto, tanto por alguns debates internos no partido, como devido ao impacto de sucessivas críticas à ação dos membros do partido no Governo, incluindo da própria candidata.

E também por questões mais polémicas sobre o funcionamento do próprio partido, com aspetos como juramentos de sangue para os membros, a ligação ao grupo de artes marciais Korka, favorecimentos na colocação de funcionários públicos, e o quase sistema de ‘dízimos’, que ajuda a funcionar o KHUNTO.

Mesmo antes da eleição de sábado, vários dirigentes do KHUNTO admitiram que a candidatura de Berta dos Santos — reconhecendo ter aceitado avançar depois de pressão do marido — tinha objetivos mais latos.

Primeiro, procurar perceber até que ponto é que os juramentos dos militantes se transformavam em votos e depois, perceber com que força o partido se apresentaria, nas negociações para apoio político pós-eleitoral, incluindo já em 2023.

Berta dos Santos é a presidente do partido, que controla atualmente cinco mandatos no parlamento e integra, com a Fretilin e o PLP, o atual executivo.

Mas o “homem forte” do partido é o marido, José Naimori, que é “conselheiro máximo e fundador”, além de claro decisor e principal dinamizador e animador político da campanha, durante a qual Berta dos Santos acabou por ficar mais na retaguarda, com Naimori a dominar o palco dos comícios e as declarações a marcar a cobertura mediática.

Dificuldades em falar em público, incluindo erros em tétum e má compreensão de perguntas feitas, levaram outros dirigentes políticos a questionarem repetidamente a capacidade da candidata para ser Presidente, como para os atuais cargos que desempenha.

Perante as críticas, Naimori disse sentir “orgulho” da alegada incapacidade de Berta dos Santos, vincando a proximidade à população.

E essa foi a estratégia de campanha, com pouca ou nenhuma exposição mediática e mais ação no terreno, em zonas onde o KHUNTO é forte.

Em Ainaro e em Manatuto, por exemplo, Berta dos Santos conseguiu ser a segunda mais votada, ficando, nos dois locais, à frente do atual chefe de Estado, Francisco Guterres Lú-Olo.

 

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