Timor-Leste/Eleições: Estado forte e revitalizar economia, prioridades de Rogério Lobato

Díli, 03 mar 2022 (Lusa) — O candidato presidencial timorense Rogério Lobato garante que, se for eleito, vai trabalhar em prol de “um Estado forte”, pela revitalização da economia, pela modernização das forças de segurança, militares e polícias e pelo reforço da identidade e cultura nacionais.

O ex-ministro e uma das figuras do início da luta pela independência timorense, na sua segunda candidatura a chefe de Estado — na primeira em 2012 obteve 16.219 votos ou 3,49% – insiste que a identidade e cultura nacionais passam também pelo reforço do português, uma das línguas oficiais.

“Temos a língua portuguesa como uma das línguas oficiais, mas parece que até temos vergonha de a falar. Não há investimento sério no ensino da língua portuguesa e não podemos ensinar ciências e outras matérias técnicas sem uma língua desenvolvida como a portuguesa”, disse em entrevista à Lusa.

“Sou timorense e consegui aprender a falar português, porque é que outros não podem? Porque não há diretivas claras nesse sentido, quando a língua portuguesa poderia ser fator de grande unidade”, considerou.

Ex-ministro da Defesa e do Interior, em diferentes momentos nos últimos 20 anos, Lobato insiste na necessidade de modernizar as forças armadas e a polícia, questionando o pouco investimento que tem sido feito.

“Vinte anos depois temos soldados que sabem marchar, fazer continência e pouco mais. Nunca houve vontade política de modernizar as nossas forças, institucionalmente e em termos de equipamento. E falo das F-FDTL e da PNTL. Como se pode exigir que garantam a segurança sem equipamentos, botas, carros, fardas”, considera.

Nesta matéria considera que “é fundamental mais cooperação com o Portugal e o Brasil e ao nível da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]”, referindo as valências portuguesas que Timor-Leste “pode aproveitar”, por exemplo no que toca ao mar.

“O nosso mar é pilhado e roubado há 20 anos. Porque não fazemos um entendimento com Portugal para estabelecer uma unidade naval, mesmo que tenhamos que desembolsar dos cofres do Estado?”, disse.

“É fundamental. Já nos roubaram mais de 2 mil milhões de dólares de peixe”, sublinhou.

Ainda no que toca ao relacionamento com Portugal destaca o facto de timorenses nascidos antes de 2002 poderem ter acesso à nacionalidade timorense, algo que aquele país “faz com Timor e com mais ninguém”.

“Têm acesso ao passaporte português. E eu sempre disse aos jovens: isto não é um direito vosso, é um privilégio que Portugal dá, por causa da nossa relação tão estreita, de um grande relacionamento afetivo que não estamos a aproveitar de todo”, disse.

A pensar na campanha, Lobato fez apelos ao reforço da democracia, “que continua viva”, o que diz estar patente no elevado número de candidatos presidenciais (16).

E expressou o desejo de que o voto decorra “na maior paz e estabilidade”, podendo denunciar ou questionar “certas coisas, mas sem ataques pessoais a candidato a, b ou c”.

“É importante criar estabilidade e paz, sem isso não podemos desenvolver este país”, afirmou.

Lobato defende que há que resolver as questões ‘penduradas’ dos últimos anos e que não o fazer “seria manter algo que é um mau precedente”, considerando que o atual Governo saiu de uma coligação pré-eleitoral que deixou de existir, com a saída do CNRT de Xanana Gusmão.

“Quando o CNRT saiu da coligação, o Presidente deveria procurar formar um novo Governo com uma nova maioria dentro do parlamento. Não o fez. O primeiro-ministro apresentou demissão e o Presidente não aceitou”, recorda.

“Tem que se repor essa ordem, tem de haver mudanças. Vamos ver como se faz. Que a decisão não traga mais instabilidade. Se for eleito isso é um dos pontos importantes que terei que considerar”, disse.

Sugeriu um possível cenário, mantendo o atual parlamento, mas avançando para um Governo de iniciativa presidencial “para gerir a transição até às eleições”, notando que “houve uma quebra da constituição e é preciso repor a constituição”.

“Se não, abrimos um precedente muito perigoso e que não é bom para o país”, disse.

Lobato referia-se aos últimos anos, criticando o que disse ser a pouca presença do chefe de Estado e do primeiro-ministro junto da população, explicando que em todo o mundo, durante a pandemia, os líderes falavam “quase todos os dias” nas televisões.

“Sempre a informar e sempre a sujeitar-se a críticas muito diretas. Não vi isto em Timor. Vi a ausência total do Estado”, considera.

“O que fizeram em termos de sucessivos Estados de emergência, foi uma fantochada que arranjaram para poderem ter acesso a alguns fundos”, critica.

As eleições presidenciais em Timor-Leste decorrem a 19 de março.

 

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