TENSÃO NO ISLÃO

A religião islâmica vive momentos de grande tensão, desde que Arábia Saudita e Irão cortaram relações diplomáticas, na semana passada. Tudo começou no passado dia 2 de janeiro, com a execução de 47 pessoas presas na Arábia Saudita e entre elas se contava um líder religioso xiita. Os conflitos religiosos entre os seguidores do Islão não são novidade e existem, praticamente, desde a sua criação.

Durante o nosso século VII, um jovem chamado Maomé, perfeito conhecedor das tradições e dificuldades do deserto, bem como dos ensinamentos das duas religiões monoteístas da época (judeus e cristãos), decidiu unificar tribos árabes e projetar Alá como um outro Deus, o único verdadeiro, e auto designou-se como o seu profeta e defensor.

Mas a mesma perfeição com que construiu uma nova crença e a organizou, não a soube preparar para o futuro, ao não deixar assegurada a sua sucessão. Após a sua morte apareceram duas correntes para dominar o vasto império árabe já conquistado e que chegara até à Pérsia, sob uma nova crença religiosa, o Islão. Por um lado, um primo e genro, Ali Ibn Abi Talib, e por outro, um dos seus sogros, Abu Bark. Administrar um território tão vasto tornou-se difícil e entre os defensores de um e de outro seguidor, sucederam-se guerras, assassinatos e divisões que foram deixando marcas ao longo da História.

As duas fações tornaram-se inimigas e deram origem ao aparecimento dos xiitas, seguidores de Ali, e dos sunitas, seguidores de Abu Bark. Os primeiros dizem que deve ser um familiar a governar o povo como forma de também representar o guia espiritual. Os sunitas, pelo contrário, defendem que o guia espiritual não tem forçosamente de governar.

Atualmente, a grande maioria é sunita, cerca de 900 milhões, enquanto os xiitas devem rondar os 150 milhões. Todos estão espalhados, mas a grande representatividade dos xiitas está no Irão, portanto, fora do mundo árabe, e os sunitas dominam os locais mais sagrados, como Meca, cujo culto ao profeta fundador aceita todos como iguais, devotos a um só Deus.

As divergências são muitas e bem evidentes, essencialmente na interpretação de códigos e condutas. E este caso recente ocorrido na Arábia Saudita, com resposta pronta em Teerão com a ocupação da embaixada Saudita, é prova mais evidente de que a paz nem sempre acompanha os melhores sentimentos religiosos. O último grande conflito religioso entre sunitas e xiitas durou 8 anos, entre o Irão e o Iraque, curiosamente com maiorias xiitas, embora na ocasião o Iraque fosse governado pelo sunita Sadam Hussein. Agora, as consequências ainda são imprevisíveis, e embora se tema estar-se perante um problema que envolve o principal produtor mundial de petróleo, o resto do mundo parece já estar mais bem preparado para enfrentar conflitos desta natureza.

A Direção