Semicondutores da Nvidia contornam sanções e entram na China, segundo Financial Times

Pequim, 25 jul 2025 (Lusa) — Semicondutores avançados da Nvidia no valor de mil milhões de dólares (851 milhões de euros) chegaram à China nos três meses após novas sanções dos EUA, noticiou hoje o jornal Financial Times, apontando um mercado negro em expansão.

De acordo com uma investigação do jornal britânico, baseada em fontes do setor e na análise de contratos de venda e documentos empresariais, existe um “mercado negro em expansão” de ‘chips’ norte-americanos no país asiático, centrado nos modelos B200, utilizados por empresas como a OpenAI, Google ou Meta para treinar modelos de inteligência artificial (IA), e cuja venda está proibida na China.

Segundo o Financial Times, vários distribuidores chineses começaram a vender os ‘chips’ B200 a fornecedores de centros de dados desde maio, depois de a administração de Donald Trump ter restringido as vendas do modelo H20 — uma versão menos potente desenvolvida para o mercado chinês após sanções anteriores impostas pelo ex-Presidente norte-americano Joe Biden.

Modelos como o H100 e H200, igualmente sujeitos a restrições, também foram detetados à venda em várias províncias chinesas nos meses anteriores, o que violaria a legislação dos EUA, mas não a chinesa, segundo especialistas citados, desde que as taxas alfandegárias tenham sido pagas à entrada no país.

Os intermediários chineses estão a utilizar países terceiros, sobretudo no sudeste asiático, para importar os ‘chips’. Os vendedores promovem-se abertamente em redes sociais como o Douyin (versão chinesa do TikTok) ou o Xiaohongshu (conhecido como o “Instagram chinês”), chegando a exibir embalagens com logótipos de empresas como a Dell ou Supermicro, que integram ‘chips’ da Nvidia em servidores.

“É como um mercado de marisco. Não há escassez”, afirmou um distribuidor, citado pelo Financial Times, referindo que o principal destino dos ‘chips’ não são os gigantes chineses da IA, mas sim pequenas empresas, entidades sancionadas ou operadores independentes de centros de dados.

A Nvidia afirmou não ter conhecimento de que os seus produtos sujeitos a restrições estejam a ser vendidos na China e advertiu que centros de dados necessitam de suporte técnico, que apenas é disponibilizado a utilizadores autorizados, o que torna estas operações “uma aposta perdedora, tanto técnica como economicamente”.

Entretanto, os Estados Unidos levantaram recentemente a proibição de venda dos ‘chips’ H20 à China no âmbito das negociações comerciais com Pequim, o que resultou numa “redução notável” da procura no mercado negro por modelos como o B200, segundo um distribuidor, embora “haja sempre procura pelos produtos mais avançados”.

 

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