Rússia: Media independentes denunciam “campanha de destruição”

Moscovo, 27 ago 2021 (Lusa) — Media independentes russos enviaram hoje uma carta aberta ao Presidente Vladimir Putin para exigir o fim da “perseguição” às redações independentes e críticas do poder.

O Kremlin, como habitualmente, apressou-se a afastar aquelas acusações, embora nos últimos meses vários media e jornalistas tenham sido classificados de “agentes estrangeiros”, estatuto infamante que implica restrições administrativas, sob pena de pesadas multas.

Vários jornalistas foram igualmente alvo de processos judiciais.

“Está em curso uma campanha de destruição dos media não-governamentais e de pressões contra jornalistas”, denunciaram os signatários da carta dirigida a Putin e a outros altos responsáveis, considerando que existe “uma perseguição ao jornalismo independente”.

“Exigimos a revisão das decisões sobre o encerramento de redações dos nossos colegas”, adianta o texto, divulgado pelo jornal Novaia Gazeta, a edição russa da Forbes e o sindicato russo dos jornalistas e trabalhadores dos meios de comunicação social.

O porta-voz da Presidência da Rússia, Dmitri Peskov, classificou o texto de “retórica”.

“Vimos esse apelo”, disse, “discordamos do termo ‘perseguição’, trata-se apenas da aplicação da lei”.

Segundo Peskov, a legislação em vigor “tem razão de ser” no país, porque “existe ingerência estrangeira nos assuntos internos”.

Desde a detenção do opositor Alexei Navalny e com a aproximação das eleições legislativas em setembro, as autoridades têm multiplicado as ações contra a oposição e os media independentes.

Várias redações, como a da televisão independente Dojd, do ‘site’ Medusa e de media de investigação, foram declaradas “agentes estrangeiros”, o que as obriga a indicar a classificação em todas as suas publicações, inclusivamente uma mensagem na rede social Twitter, e fez cair as suas receitas publicitárias.

A lista de “agentes estrangeiros” inclui as organizações financiadas a partir do estrangeiro e que têm, segundo as autoridades, atividades “políticas” na Rússia.

Outros meios de comunicação ligados ao oligarca no exílio Mikhail Khodorkovsky também foram recentemente bloqueados, após terem sido declarados “organizações indesejáveis”, um outro estatuto que expõe os seus membros a processos judiciais.

Desde a chegada ao poder de Vladimir Putin em 2000 que a Rússia é acusada de restringir a liberdade de expressão nos media tradicionais, mas os meios de comunicação ‘online’ conseguiam trabalhar com relativa liberdade.

A organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional acusou o Kremlin de querer “erradicar o jornalismo imparcial e as investigações” jornalísticas.

 

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