PRISÃO PREVENTIVA

Deste lado do oceano, a muitos quilómetros da nossa terra natal, vamos tomando conhecimento do que por lá se passa, porque estamos interessados e procuramos saber, ou porque as notícias entram pela nossa casa adentro. De facto, nos últimos dias muito se tem falado e comentado sobre a justiça em Portugal. Se noutros tempos era voz corrente dizer-se que a justiça não funcionava e que os poderes instalados estavam sempre salvaguardados, agora passa-se precisamente o contrário.

Recentemente, foi o caso BES. Ricardo Salgado foi constituído arguido e condenado ao pagamento de uma caução de 3 milhões de euros, enquanto aguarda julgamento, e proibido de se ausentar do País. Na semana passada foi o escândalo total, com o despoletar da operação Labirinto em que a Polícia desmantelou uma rede, ao mais alto nível do Estado, e que cobrava milhões com a passagem dos vistos gold. Para além das prisões, um ministro foi empurrado para a demissão.

Agora, assiste-se à operação Marquês que está para lá do que era expectável. Pela primeira vez, um ex-Primeiro-Ministro está a braços com a justiça acusado de branqueamento de capitais, corrupção e fraude fiscal. Depois de três dias detido para interrogatórios, o juiz decidiu que José Sócrates vai aguardar julgamento em prisão preventiva. O mesmo acontece com outros dois arguidos neste processo: o motorista João Perna e o ex-administrador do Grupo Lena, Carlos Santos Silva.

José Sócrates sempre foi um caso de amor e ódio. Enquanto Primeiro-Ministro movia montanhas, desbravava qualquer dificuldade e projetava o nome de Portugal. Apelidava-se de homem moderno e representava a locomotiva da renovação. Grandes obras e projetos megalómanos faziam parte do seu estilo de governação. Quem não gostava de ouvir o discurso da esperança e da promessa para o bem de todos? Só que as consequências foram terríveis. Sócrates foi forçado a pedir ajuda internacional e mergulhou Portugal na maior crise financeira de sempre.

Agora, Sócrates está preso. Trata-se de uma vergonha para quem exerceu tão alto cargo e comandou os destinos de uma nação. Para os portugueses, das duas uma: ou se fica cabisbaixo, também envergonhado e sujeito à crítica internacional pela triste figura provocada por quem se elegeu para governar, ou se respira com algum alívio, na certeza de que se sabe que a justiça, afinal, está a funcionar. Vamos acreditar nesta diferença que a justiça portuguesa está a mostrar e que poderá ser exemplo para outros países.

A Direção