
Beirute, 06 nov 2025 (Lusa) — O Presidente libanês, Joseph Aoun, acusou hoje Israel de responder com agressão à sua disponibilidade para negociações, no dia em que as forças israelitas bombardearam alegados alvos do grupo xiita Hezbollah no sul do país.
“Quanto mais o Líbano expressa a sua disponibilidade para negociações pacíficas, a fim de resolver as questões pendentes com Israel, mais Israel continua a sua agressão contra a soberania libanesa”, criticou o dirigente libanês.
Em comunicado, Joseph Aoun lamentou que Israel mantém “desprezo pela resolução 1701 do Conselho de Segurança” da ONU e “continua a violar as suas obrigações ao abrigo do acordo de cessar-fogo”, em vigor desde novembro de 2024 e que suspendeu as hostilidades entre as forças israelitas e o grupo xiita libanês apoiado pelo Irão.
No último ano, prosseguiu o Presidente do Líbano, “Israel não poupou esforços para demonstrar a sua rejeição de uma solução negociada” entre os dois países, acrescentando: “A sua mensagem foi recebida”.
Aoun classificou a vaga de bombardeamentos de hoje como um “crime total”, tanto ao nível político como em relação ao direito internacional humanitário, que proíbe causar o pânico entre a população civil e obrigá-la a abandonar as suas casas, segundo o comunicado.
Por sua vez, o Exército libanês afirmou que estes ataques fazem parte de “uma continuação da estratégia destrutiva de Israel”, com o objetivo de “minar a estabilidade do Líbano, ampliar a devastação no sul [do país], perpetuar a guerra e manter a ameaça contra civis”, além de impedir a conclusão do destacamento de tropas libanesas para a região da fronteira entre os dois países.
Nesse sentido, sublinhou “uma estreita coordenação” com a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FINUL), com a qual mantém uma relação caracterizada por um “elevado grau de confiança e cooperação”.
Ao fim do dia, os militares israelitas reivindicaram ataques contra depósitos de armas e instalações da Força Radwan, unidade de elite do grupo xiita, que anteriormente tinha declarado o seu “direito legítimo” à defesa e oposição a negociações diretas entre Beirute e Telavive.
No carta aberta à população e líderes libaneses hoje conhecida, o Hezbollah justifica a recusa do diálogo com a a alegada tentativa de Israel de arrastar o Líbano para um acordo que “não serve o interesse nacional”.
Segundo uma fonte próxima da liderança política do Hezbollah, citada pela agência France-Presse (AFP), a carta aberta foi divulgada no seguimento de visitas recentes de enviados norte-americanos e egípcios, que instaram as autoridades de Beirute a iniciarem negociações diretas com Israel.
A Agência Nacional de Notícias Libanesa (ANN) relatou que aviões de combate israelitas atingiram hoje cinco localidades no sul do país, onde foram registados danos em edifícios.
Segundo o Ministério da Saúde Pública do Líbano, uma pessoa ficou ferida em Tayr Debba, sem relatos de vítimas até ao momento nas outras áreas atingidas.
No domingo, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acusou o Hezbollah de procurar rearmar-se, e o seu ministro da Defesa, Israel Katz, criticou o Presidente libanês, Joseph Aoun, por protelar o desarmamento previsto do movimento xiita.
Joseph Aoun reiterou dois dias mais tarde a sua oferta de negociações com Israel, ao mesmo tempo que lamentava falta de resposta e a continuação dos ataques no seu país.
Os militares israelitas revelaram na quarta-feira que, no último mês, foram eliminados 20 alegados membros do Hezbollah, “cujas atividades violaram os acordos entre Israel e o Líbano”.
O Hezbollah integra o chamado eixo da resistência apoiado por Teerão e envolveu-se em hostilidades militares com Israel, logo após o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023, em apoio do aliado palestiniano Hamas.
Após quase um ano de troca de tiros ao longo da fronteira israelo-libanesa, Israel lançou uma forte campanha aérea no verão do ano passado, que decapitou a direção do movimento xiita, incluindo o seu líder histórico, Hassan Nasrallah, e vários outros responsáveis da hierarquia política e militar do Hezbollah.
Desde o cessar-fogo, o Estado libanês tem procurado concentrar todo o armamento do país nas mãos das forças de segurança oficiais e deslocou efetivos para a zona da fronteira com Israel, tradicionalmente um reduto do Hezbollah e onde as tropas israelitas ainda mantêm posições militares.
A FINUL termina o seu mandato em 2026, depois de quase cinco décadas no terreno.
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