
Sesimbra, Setúbal, 26 dez 2025 (Lusa) — O candidato presidencial António Filipe disse hoje que os portugueses “não precisam de discursos de tipo motivacional” mas sim de uma valorização geral dos salários que ajude a “mitigar uma inaceitável desigualdade na distribuição do rendimento”.
Antonio Filipe reagia à mensagem de Natal do primeiro-ministro em que Luis Montenegro defendeu que Portugal vive um momento de viragem em que tem de trocar a “mentalidade do deixar andar” pela da superação, apontando o futebolista Cristiano Ronaldo como exemplo do espírito de afirmação pela excelência.
Para Antonio Filipe, que hoje visitou o parque operacional da Câmara Municipal de Sesimbra, no distrito de Setúbal, para um contacto com os trabalhadores da recolha de resíduos, a questão não se centra na mentalidade dos portugueses, mas sim na necessidade de serem valorizados através de politicas públicas.
“Acho que não é uma questão de mentalidade, porque acho que a mentalidade o povo português tem, e não precisa destes discursos de tipo motivacional, não precisa, precisava de ser valorizado, ou seja, era preciso que houvesse, de facto, políticas públicas no sentido, desde logo, da valorização significativa do salário mínimo, mas que se traduza num aumento geral dos salários, não apenas haver mais trabalhadores a ganhar o salário mínimo”, frisou.
O candidato presidencial apoiado pelo PCP especificou que é necessária “uma valorização geral dos salários que ajude a mitigar uma inaceitável desigualdade na distribuição de rendimentos”.
“Quem cria a riqueza são os trabalhadores, é pela força de trabalho que essa riqueza é criada, e os trabalhadores não beneficiam dela, quem beneficia da riqueza criada são os acionistas das grandes empresas”, frisou sustentando que tem de existir políticas públicas que alterem esta situação.
Ainda no que respeita à mensagem do primeiro-ministro, António Filipe considerou ser significativo que Luis Montenegro reconheça o facto de os trabalhadores portugueses no estrangeiro serem valorizados, mas que se esqueceu de explicar porquê.
“Esqueceu-se de explicar porque é que em Portugal não são, e não são porque continuamos a ter políticas de baixos salários. Temos dois milhões e meio de trabalhadores que ganham menos de mil euros por mês, temos um salário inaceitavelmente baixo e isto condena o país ao descontentamento das pessoas, à desmotivação”, salientou.
Para António Filipe na mensagem do primeiro-ministro faltou falar de muitas coisas, entre as quais os problemas na área da saúde e a legislação laboral, e abordou outras questões que classifica como dispensáveis.
“O primeiro-ministro poderia ter aproveitado para anunciar ao país a retirada da proposta de pacote laboral. Não o fez, omitiu essa questão, e espero que essa proposta não vá por diante, se ela não for retirada pelo Governo, que seja rejeitada na Assembleia da República”, disse adiantando que na qualidade de Presidente da República, se for eleito, usará as atribuições que a Constituição lhe confere para poder suscitar a fiscalização da constitucionalidade de normas que, do seu ponto de vista, sejam violadoras da Constituição e de pronunciar sobre as que considere lesivas para os trabalhadores.
Relativamente ao contacto que teve hoje trabalhadores de recolha de resíduos, António Filipe destacou que são essenciais para a sociedade e são mal compensados por isso.
As eleições presidenciais estão marcadas para 18 de janeiro de 2026.
Esta é a 12.ª vez (incluindo as duas voltas das eleições de 1986) que os portugueses são chamados, desde 1976, a escolher o Presidente da República em democracia.
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